Fragmentos de um louco (em pdf se preferir) 

 

 

 

                     

                                            Capa

 

 

 

EDUARDO ABÍLIO DA SILVA

FRAGMENTOS DE UM LOUCO

LIVRARIA  POPULAR  DE   FRANCISCO   FRANCO

RUA    DE    BARROS    QUEIRÓS,    14-18 — TELEF. 864548   LISBOA-2

                                                     1

 

  1 9 7 4

Tip.Narciso Correia —- Rua Ferreira  Chaves, 3

      Telefone  68 26 29 9 LfSBOÂ-I

                                           2

 

FRAGMENTOS DE UM LOUCO

 

Sempre me considerei apolítico.

Não por ter medo ou por não me importar com a Terra em que vivo, mas porque, pura e simples­mente, sou um espírito virado para a Ciência.

Se tantos traumatismos não me tivessem trans­formado a vida numa revolta constante, seria talvez um cientista.

Hoje, com a idade e a falta de desenvolvimento de algumas aptidões que possuía, já dificilmente fa­rei alguma coisa de jeito.

Nunca na minha vida votei pois, talvez errada­mente, pensei que no regime existente não valia sequer a pena ir às Urnas.

Já tentei sair do País, mas talvez por apatia ou por medo de corar de vergonha quando à minha frente expressassem a opinião que no Mundo tinham de Portugal, deixei-me ficar numa atitude passiva, mas revoltada e sempre numa esperança dum 25 de Abril.

Hoje sinto que teria tido imensa pena de ter_ perdido aquele dia histórico, embora nada tenha feito para a sua consumação.

Vá Portugal para o caminho que for, só aquele dia fez de mim o escravo mais sincero e voluntário pronto a sacrificar-se por uma Pátria que julgava não ter a ventura de possuir Homens com ideais tão nobres e corajosos.

 

                                     3

 

 

 

 

      Portugal é, e ainda que fique só reduzido ao Continente, será sempre uma Grande Nação.

Quase posso jurar que o dia 25 de Abril de 1974 teve também o condão de curar milhares ou talvez milhões de Portugueses que andavam a tratar-se de doenças nervosas em Consultórios de Neurologia e Psiquiatria.

Contentem-se agora estes Consultórios com aqueles que ficaram doidos, doidos de alegria. E não devem ser poucos! A alegria muitas vezes até mata.

Não devemos ter só em atenção os presos de Caxias. Devemos também considerar aquelas mentes fracas que não resistiram e encheram os manicómios e casas de saúde e talvez não tenham a assis­tência de que precisam.

Lutemos para que nunca mais interesses indivi­duais vis e mesquinhos se sobreponham aos interes­ses da Nação ou sequer de qualquer Colectividade dentro da Nação.

Façamos por não estragar com ódios, invejas e vinganças pessoais tudo o que conseguimos realizar num dia.

... Tenhamos sempre em atenção que a maior par­te das pessoas coagidas por situações existentes são muitas vezes levadas a fazer coisas de que se enver­gonhariam numa situação normal.

Evitemos entregar-nos a extremismos.

       Temos na mão a possibilidade de fazer com que todos os outros Povos do Mundo venham a sentir um dia pena de não serem Portugueses.  Sejamos ordeiros e compreensivos.

Depois da euforia da Vitória tentemos realizar os ideais que a nortearam.

O Mundo tem os olhos postos em nós. Mostremos-lhe o que somos capazes de fazer.

 

                                                4

 

 

Tenhamos brio, aquele Brio Português que mui­tas vezes apregoámos.

Um País virado para o Futuro não pode alhear--se da Ciência e da Técnica.

Vou tentar dar o meu contributo com ideias simples que sempre me fervilharam na cabeça e que, mesmo erradas, poderão abrir horizontes para uma nova forma de pensar.

Quase tudo o que a seguir exponho (mesmo tudo, pois as correcções que fiz limitaram-se a uma compilação de parágrafos e a uma ou outra melho­ria de redacção) já tinha sido escrito antes do dia 25 de Abril de 1974.

Nem nesta altura teria cabeça para redigir grande coisa.

Ainda ando meio assarapantado!

Nem tenho tempo para seguir a catadupa de no­tícias a que não estava habituado.

Peço desculpa por não corrigir um texto que já não estará, em alguns pontos, de acordo com a situação actual, ou se a demora na edição o de­sactualizar. Mas não o faço para melhor poderem analisar o meu estado de espírito na altura e, prin­cipalmente, o meu estado de revolta por nem sequer ligarem ao meu anseio de comunicação. Também posso em escritos posteriores entrar em contradição com algum ponto já focado, mas será por dar conta de erro em que não devo perseverar ou por fraqueza humana em redigir atabalhoadamente o que deveria ser com cuidado. E farei também sempre por mos­trar o fluxo do meu pensamento que pode estar errado (e por muitos anos que viva talvez não con­siga exprimir sequer uma pequena parte do muito que gostaria de dizer).

Pelo menos, um dos pontos do meu escrito de 1971 está certo.

 

                                          5

 

 

Foi provado este ano ou no ano passado, salvo erro, que a Terra deixa um rasto na sua trajectória no Espaço proveniente da sua atmosfera, ou antes, estratosfera. Li a notícia no «Diário de Notícias» ou no «Século» e esqueci-me de a recortar.

Posso dizer que há mais de dez anos comecei a escrever aqueles apontamentos mas não o posso provar pois só os publiquei em 1971.                                                 

                              28 de Abril de 1974


<![endif]>                                                         6

 

 

 

Geralmente quando se edita um livro tem-se sempre a esperança de reaver pelo menos o dinheiro gasto na edição.

Não editei este ou um parecido com este há mais tempo por não ter dinheiro e não ter consegui­do arranjar editor propenso a gastar tempo e di­nheiro com parvoíces.

E parece-me que vou ficar de tanga, pois a parte primeira datada de Agosto de 1971, (embora precisa­da de remendos, publico-a agora tal qual, sem alte­ração) que publiquei em estilo sebenta e distribui por várias pessoas amigas, não teve grande aceita­ção.

No entanto tenho agora alguma esperança, pois essa primeira parte, se bem que já tivesse começado a sua escrita há mais de dez anos, foi terminada num período muito conturbado da minha vida em que estive a dois passos da loucura.

Também espero que numa miscelânea de frag­mentos haja algum para recompensar o leitor do gasto e tempo perdidos em aturar os escritos des­cuidados, pouco desenvolvidos e muito pouco estu­dados de assuntos merecedores de uma melhor ca­beça que não a minha.

Mesmo assim, apesar de todas as minhas des­culpas, haverá muitos que, talvez com razão, me apelidem de pretensioso e idiota.

Para esses o mais que posso fazer é indemnizá-los do dinheiro gasto, já que do tempo não é, nem nunca será, possível.

 

                                                   7

 

Página em branco

 

 

                                                   8

 

 

Escrevo, falo, barafusto.

Ninguém me liga nenhuma.

E como gostaria eu de que alguém válido ten­tasse analisar as minhas ideias.

Duas hipóteses se podem pôr:

A incompreensão, que se repete através dos séculos, dos génios tardiamente compreendidos e quantos nem sequer reconhecidos, ou a justa per­cepção do idiota que tem pretensões ridículas e que não merece mais que o simples desprezo da gente elucidada.

Só a audácia da exposição destas hipóteses que ultrapassam as peias impostas a qualquer escritor de bom senso me levam a situar-me irrefutavelmen­te na segunda das hipóteses. De qualquer forma não é crime nem ofensa expor a insensatez dum louco.

Ë um desejo veemente de querer explicar tudo, sem saber nada. Mas, de qualquer forma, uma con­cepção de ideias que, ainda que não estejam certas, têm uma probabilidade de estar perto da Verdade.

Fragmentos dispersos, até talvez sem nexo, que deveriam ser mais bem estudados, mas que me po­derão trazer grande satisfação no caso de a antítese dum assunto neles tratados estar certa. Sinal de que havia dois caminhos que vislumbrei, tendo envere­dado pelo errado.

 

                                                   9

 

 

Página em branco

                                                  10

 

 

 

Não sei bem como me advieram certas ideias. Foi um conjunto de ler, ver e pensar. Pensar não é difícil. Basta estar acordado. O que se torna difícil, por vezes, é orientar, controlar e parar o pensamen­to (adormecer). Muitas vezes passei algumas noites cheio de sono e sem poder dormir, pois os meus pen­samentos eram mais fortes do que o meu ser. Isto é um dos princípios da loucura. E eu não tenho medo da morte, roas tenho medo de enlouquecer. O espí­rito humano lúcido é uma coisa maravilhosa. Os seres vivos são formados por duas máquinas que vivem em simbiose. Uma trabalha continuamente, umas vezes na sua totalidade e outras num semitrabalho. Chamam-lhe subconsciente. Não temos acesso a esta máquina (talvez para nossa felicidade). O subconsciente tem a seu cargo, quando em semitrabalho, controlar as funções vitais, e quando em tra­balho pleno reparar a outra máquina (além de con­trolar também ao mesmo tempo as funções vitais). À outra máquina chamam consciente. Tem a seu car­go todas as acções inerentes à vontade e ao pensa­mento e funções de relação com o exterior. Cansa-se muito facilmente e então passa os comandos ao subconsciente, o qual a reparará. Entra-se desta for­ma no sono. Nunca se deveria interromper o sono a ninguém, mas as necessidades da vida activa da Humanidade são contrárias a isso. De qualquer ma­neira um ser vivo pode viver sem comer e sem beber, mais ou menos tempo. Não pode viver sem dormir. Reparem que até as plantas dormem.

Nestes meus apontamentos analisei, por vezes, várias hipóteses dum mesmo assunto. Outras vezes

 

                                             11

 

limitei-me a escrever o que pensava considerando isso a minha verdade. Podem até apelidar-me de plagiador, mas as nossas ideias não são mais do que um conjunto de outras ideias que já lemos ou ouvimos de alguém. Muitas vezes não escrevo muito coerente­mente, mas também não estou para alterar o que escrevo, pois foi a corrente do meu pensamento e essa corrente é muito difícil de traduzir em pala­vras. Ë até muito difícil transmitir ideias. O pensa­mento tem uma velocidade muito aproximada da luz. As nossas palavras têm uma velocidade muito aproximada da do som. Estão a ver a dificuldade?!

Dou inteira liberdade a quem quiser, de alterar o que eu escrevi, pois muitas coisas podem (e devem até) estar erradas. O mal do Homem é querer expli­car por uma só lei o Universo todo que é tão com­plexo. Muitas vezes duas leis antagónicas podem es­tar certas (parece difícil!). Estão é mal ajustadas ao princípio a que se aplicam.

Se alguém não achar desperdiçado o tempo que
perdeu comigo dar-me-ei por muito feliz.

                                               Agosto de 1971

                          

                               12

 

 

 

     UM ESBOÇO DO UNIVERSO  

       INFINITO, o que não tem fim.                  

Muita gente não tem a verdadeira noção do que é o infinito. Vejamos se o consigo explicar. Já que estamos na era dos foguetões espaciais imaginemos um que tenha a propriedade de atravessar todos os corpos. Imaginemos também que é dotado de uma força de propulsão que lhe permite deslocar-se a uma velocidade fantástica, à velocidade da luz, por exemplo, e que essa força de propulsão é eterna, isto é, nunca mais acaba. Esse foguetão lançado a partir dum ponto qualquer sempre em linha recta, isto é, sempre em frente desse ponto, quando é que pára? Nunca, nunca mais. Faz uma viagem infinita (no tempo) através do infinito (no espaço). Ainda que puséssemos a hipótese de ter de parar em qualquer ponto, essa hipótese seria absurda. De facto, se esse foguetão tem a propriedade de poder atravessar tudo (o fogo, a matéria não-fogo, o vácuo, etc.) nun­ca poderá desviar-se da sua trajectória nem parar em qualquer ponto, pois para lá desse ponto existe, com certeza, qualquer coisa. Se idealizarmos outro foguetão idêntico a partir do mesmo ponto do pri­meiro, mas em sentido contrário, teremos a defini­ção de uma linha recta dada pelo percurso destes dois foguetões. Uma linha recta é, portanto, uma linha infinita nos dois sentidos. E aqui temos várias noções de infinito. Os foguetões são infinitos. A for­ça de propulsão é infinita. O percurso dos foguetões são infinitos. A força de propulsão é infinita. O per-

                                                       13

 

curso dos foguetões é infinito e através do espaço infinito. A linha recta é infinita. Alguns consideram a linha recta como se existisse só na teoria, no nosso pensamento, mas se analisarmos bem encontrare­mos a possibilidade de a transpormos para o espaço pois, ainda que isso pese a muitos, o espaço é infini­to. Considero absurda a suposição de que uma linha recta no espaço não existe senão teoricamente. De facto se quiséssemos traçar essa recta, seria muito difícil ou até talvez impossível, pois mesmo que pu­déssemos dispor do tempo todo e do espaço todo, bastaria a menor imperfeição para que essa linha deixasse de ser recta. Mas de qualquer maneira isso não demonstra a impossibilidade da sua existência, ou pelo menos não é impossível a existência de dois pontos que se afastem um do outro indefinidamen­te e que aumentem eternamente a sua distância por maior que esta seja. Podemos comparar a existên­cia duma recta com a existência duma esfera per­feita. De facto, por muito perfeita que seja, uma esfera nunca atinge a perfeição suprema, mas isso não nos autoriza a afirmar que não existe essa esfera perfeitíssima e, muito menos, que não pode existir. Basta no nosso pensamento, nos nossos raciocínios, acharmos lógica numa possibilidade de existência de qualquer coisa e essa lógica não conduzir a um absurdo, para que essa coisa possa existir realmente. O TEMPO. Podemos esquematizar o tempo com uma linha recta. Sabemos que uma linha recta é uma linha assente num plano que não tem princípio nem fim. Ë, portanto, infinita nos dois sentidos. O tempo poderá ser representado por uma recta onde marcámos um ponto. Este ponto marca o tempo presente. Divide a recta em duas semi-rectas: num sentido fica o tempo passado, no outro sentido fica o tempo futuro. Esse ponto, ou seja o tempo pre-

                                                           14

 

sente, desloca-se com um movimento uniforme na recta do tempo e jamais parará, seguindo sempre o mesmo sentido. Nunca poderá, portanto, deslocar-se em sentido contrário, pois isso implicaria a sua pa­ragem. Conclusão: O tempo é infinito no passado e no futuro. Se considerarmos o tempo como uma con­sequência do movimento molecular da matéria, a deslocação do tempo será igual à média dos movi­mentos moleculares de toda a matéria existente no Universo.

Há muitas teorias relacionadas com a palavra tempo. Algumas considero absurdas. Por exemplo: Em certos livros de ficção científica aventa-se a hipótese de uma máquina que viaja no tempo. Se isso fosse possível viria alterar a própria estrutura dum ser. (Ser ou não ser, eis a questão). Qualquer um poderia retroceder no tempo e modificar a par­tir de certo momento a sua vida já passada. Mas se em vez de retroceder, avançasse no tempo, também modificaria, com certeza, a seu bel-prazer a sua vida no futuro. Estão a ver a incongruência que não seria uma pessoa alterar os fenómenos que lhe deram a existência. Uma coisa que é alterar-se para uma coisa que nunca poderia vir a ser. E se nunca poderia vir a ser, nunca poderia ter tido existência para alte­rar-se a si próprio. Isto é absurdo. Vejamos agora em que consiste a impossibilidade desta teoria (se lhe quisermos chamar assim). A noção que temos do tempo é-nos dada pura e simplesmente pelo movi­mento da matéria com todas as suas consequentes modificações. Podemos até dizer que o tempo não existe só por si, mas sim como uma consequência do movimento. Agora vejamos: Tome o movimento a forma que tomar é com certeza sempre de um modo positivo. Quando dizemos: Se fizéssemos andar tudo ao contrário poderíamos retroceder no tempo. Este

15

 

andar ao contrário não é uma forma negativa de movimento. Para nossa comodidade é que o conside­ramos como tal. E o mesmo que acontece com um comboio que pára e anda para trás. Se considerar­mos o andar para a frente positivo, diremos o andar para trás negativo. Mas esta forma de considerar é muito relativa. Consideramos os dois sentidos exis­tentes numa direcção. Mas o sentido contrário não quer dizer verdadeiramente o sentido negativo. O movimento é nos dois casos positivo. Mesmo no caso das inversões dos «spins» ou no caso da aceleração dos neutrinos não se dá uma deslocação no tempo. Dá-se uma deslocação na matéria. De facto a acele­ração dos neutrinos, por exemplo, pode dar-se a uma velocidade superior à da luz, dando-nos por es­ta forma uma ilusão de deslocação no tempo, com­parável à de um raio e o respectivo trovão, na lei­tura das informações concomitantes. Para encon­trarmos o movimento negativo da matéria teríamos de parar o movimento molecular, o que só se conse­guiria atingindo o zero absoluto. De facto se um comboio vai a andar para a frente e quisermos que ande para trás, teremos de o parar, ou antes, tere­mos de parar o movimento para a frente para po­dermos dar-lhe um movimento para trás. Ora na matéria só depois de atingido o zero abso­luto poderíamos, com uma temperatura ainda mais baixa, encontrar esse movimento negativo, o que sa­bemos ser impossível. Teríamos para isso de ultra­passar a barreira do frio, o que é impossível.

O ESPAÇO. Podemos considerar o espaço como uma esfera, à semelhança de uma bola de sabão, que possa crescer indefinida e perpetuamente. O espaço, portanto, considerado a partir de um ponto e em qualquer sentido é infinito. Se puséssemos a hipótese de um limite, poderíamos perguntar: E

                                              16

 

para além desse limite o que é que há? Há mais isto e mais aquilo. Mas este mais isto e mais aquilo ocupa com certeza espaço. Portanto para além desse limite há com certeza mais espaço e assim sucessi­vamente. É absurdo dizermos que não há mais nada com a intenção de limitarmos o espaço, pois esse mais nada ocupa espaço com toda a certeza.

A MATÉRIA. Qual a matéria existente no espa­ço? Se o espaço é infinito, a matéria não poderá ser mensurável. No entanto poderá ser definida. Consideremos o nada absoluto. Ainda não foi pos­sível obtê-lo em laboratório, mas isso não prova a sua inexistência. Podemos muito bem idealizá-lo e esta ideia não será de qualquer forma ilógica. Se o espaço é infinito, é muito possível que num ponto qualquer desse espaço ele exista. Eu tenho para mim que o nada existe até muito mais perto do que nós supomos. E senão vejamos. Segundo ideia minha mas facilmente comprovável a matéria é indestru­tível. (Esta ideia verdadeiramente não é minha, é de Lavoisier). De facto idealizemos a menor porção de matéria e, por hipótese, dividamo-la ao meio (ou num número qualquer de partes). Essa metade tam­bém pode ser dividida ao meio. E estoutra também. E assim sucessiva e indefinidamente. (Note-se: Não c por isto que a matéria é indestrutível). Também podemos raciocinar doutra maneira. Da divisão da matéria obtivemos, por assim dizer, dois bocados de matéria. Entre estes dois bocados, que ocupam espaço evidentemente, existe qualquer coisa. Supo­nhamos que existe outra matéria qualquer. Mas então entre essa matéria e um dos bocados também existe qualquer outra matéria. E assim sucessiva­mente. Mas, com certeza, deve-se admitir a hipótese de dois bocados de matéria contíguos, isto é, sem haver outra matéria entre ambos. Ora, a não ser que

17

 

a matéria se ligue uma a outra duma forma intrín­seca (o que não é muito provável), o que é que existe entre esses dois bocados de matéria contíguos? O nada absoluto evidentemente. Este nada com certeza é muito diminuto, mas não deixa de ser o nada abso­luto. (Note-se que quando falo de matéria é duma forma muito ambígua. Tanto me posso referir a uma gota de água como a uma molécula de vinho ou a um ião ou protão ou qualquer outra coisa. O que quero significar é a matéria em si, isto é, a diferenciação entre a matéria e o nada absoluto).

Consideremos agora a matéria. A matéria é qual­quer coisa que existe e ocupa espaço. Até agora ain­da não foi possível reduzir qualquer matéria a nada e duvido que isso seja viável. Mesmo na desintegra­ção da matéria não se opera outra coisa que não seja a transformação dessa matéria nas partes com­ponentes da mesma, com libertação de energia (que é um estado da matéria). Uma lei bem verídica e que ainda não foi contestada (e jamais será, segundo creio) é: A massa de um composto é igual à soma das massas dos componentes. (Lei da conservação da massa). Aliás, está bem demonstrado que mesmo as menores porções de matéria, os iões, protões e neutrões, são indestrutíveis. E ainda que fossem des­truídos ficaria qualquer coisa, os componentes, cuja soma das massas é natural que fosse igual à massa do composto. Ora, atendendo a tudo isto, mais absurdo seria pensar na transformação do nada (na­da absoluto) em qualquer coisa. Isso quanto a mim não tem pés nem cabeça. Vá lá, a transformação de qualquer coisa em nada poderia ainda idealizar-se e seria uma ideia com certa lógica (que eu acho im­possível quanto à sua realização). Mas o contrário é que não tem senso nenhum. Ora pela falta de senso neste contrário cai-se na demonstração verdadeira

                                     18

 

do original. De facto se fosse possível transformar qualquer coisa em nada também seria possível, tal­vez, transformar o nada em alguma coisa. E então este nada já não era o nada e sim alguma coisa. Portanto a matéria sempre existiu e sempre existirá no tempo e no espaço e, digamos assim, na quanti­dade de matéria existente, isto independentemente, é claro, da forma que tenha ou possa vir a ter.

DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA. A matéria, quan­to a mini, distribui-se em dois grandes grupos, em­bora com permutações entre ambos: O FOGO e o NÃO-FOGO. Ë talvez esquisito como me adveio esta divisão ou este conceito e é natural que esteja errado nas minhas concepções. No entanto tentei sempre seguir um raciocínio lógico e, apesar das minhas falhas, pois errar é próprio dos homens, e dos meus fracos conhecimentos em assunto tão transcenden­te, é também muito natural que descubram nestes apontamentos muitas ideias (já conhecidas ou des­conhecidas) que ficam à disposição dos que, saben­do muito mais que eu, queiram dispensar-lhes um pouco de tempo para as corrigirem e verificarem e, por assim dizer, transporem para termos mais cien­tíficos. Mas voltando à minha definição vamos ver porque pensei assim. Toda a matéria existente no espaço obedece a leis de harmonia, mais ou menos estudadas e aceites como verdadeiras e imutáveis. (Note-se que para mim não as considero obrigato­riamente imutáveis. Na lei da relatividade, se as condições existentes fossem outras, essas leis de harmonia também teriam com certeza de ser outras, embora imutáveis em relação a essoutras condições. Portanto só são de facto imutáveis em relação às condições existentes no Universo). Uma destas leis é a lei da atracção universal; Matéria atrai matéria na razão directa das massas e inversa do quadrado

19

da distância. Toda a matéria tende a juntar-se em grupos mais ou menos compactos e que, segundo os seus movimentos próprios, tomam uma forma mais ou menos esférica. Essas grandes massas tenderiam a unirem-se se não fossem contrariadas pêlos seus movimentos próprios (em volta do seu eixo ou de outras massas). É natural que os movimentos pró­prios dessas grandes massas criem outras forças (por exemplo, a força centrífuga), algumas ainda por estudar, que contrabalancem a lei da atracção uni­versal, impedindo assim a sua junção ou, em muitos casos, a sua disjunção. Estes movimentos e leis são verdadeiros para toda a matéria: o fogo e o não-fogo. (Sabemos, por exemplo, que um átomo é formado por um núcleo e neutrões que giram constantemente à sua volta e tem, portanto, os seus movimentos próprios regidos por determinadas leis). O fogo não é mais que uma reacção química ou física actuando sobre uma matéria. (Ou antes talvez uma aceleração da agitação molecular que provoca, quando ultra­passa uma certa velocidade, uma força — força cen­trífuga, talvez — superior à força da atracção uni­versal). Ë indispensável um combustível e um comburente. Esta reacção liberta uma determinada ener­gia que é projectada para fora da combustão. Por­tanto o fogo é uma matéria em combustão com pro­jecção de energia e que cria uma força contrária à lei da atracção universal.

O não-fogo será uma matéria sem combustão, por assim dizer, uma matéria em repouso, o que não evita que tenha os movimentos inerentes a toda a matéria. Simplesmente esses movimentos não estão ainda suficientemente acelerados para passar a ma­téria não-fogo a fogo. Portanto o não-fogo será toda a outra matéria que não é fogo. Talvez não tenha conseguido exprimir-me bem ao tratar deste assunto.

                                                                20

 

O que eu verdadeiramente queria designar por fogo não era o conjunto que o produz, ou seja, o combus­tível e o comburente, mas sim o fogo em si, isto é, a reacção-fogo que transforma uma matéria não-fogo noutra matéria não-fogo e projecta determinada energia que também considero fogo. Este fogo é de facto matéria. Não confundir a matéria fogo com o plasma ou magma. Este não é mais que um estado da matéria fogo.

Também poderíamos dizer que a matéria fogo não é mais que um estado da matéria. No entanto faço esta distinção porque as leis que regem a maté­ria fogo não são verdadeiramente iguais às leis que regem a matéria não-fogo. Como adiante pormenori­zarei é natural que uma estrela não seja constituída só por fogo, mas sim por matérias não-fogo e fogo. O fogo necessita de um comburente e um combus­tível. Ora esse comburente e esse combustível são matérias não-fogo que dão origem ao fogo por meio de uma reacção e possivelmente se voltam a trans­formar em outras matérias não-fogo. A matéria fogo tem uma lei de repulsão sobre toda a matéria — fogo e não-fogo — ainda não determinada (Ideia estritamente pessoal). Analisemos a questão propos­ta. Primeiro cairíamos numa impossibilidade. De facto se o fogo repele a matéria repeliria também os combustíveis e comburente. No entanto é muito natural que a reacção que o produz — entre o com­bustível e o comburente — se oponha a essa repul­são, isto é, tenha um poder de atracção superior ao de repulsão. Mas verdadeiramente o que deve acon­tecer é talvez o seguinte: O que chamo «reacção» provoca a aceleração dos movimentos moleculares. Esta aceleração dá origem a uma força contrária à força de atracção universal. Essa força cresce com o aumento da aceleração e em determinada altura

21

 

iguala a força de atracção universal. Quando a ultra­passa dá origem ao fogo, ao que eu chamo matéria fogo. Esta matéria fogo é dotada, portanto, de uma força contrária e maior que a força de atracção uni­versal que talvez perderá através do tempo e do es­paço por falta de continuidade na aceleração dos movimentos moleculares, transformando-se por isso outra vez em matéria não-fogo.

Vejamos agora a lei de repulsão. Por exemplo, uma estrela, o Sol. Sabemos que o Sol emite uma infinidade de raios — os raios solares — em todas as direcções. Esses raios ou quaisquer raios de luz (havendo luz são com certeza raios de fogo, pelo menos na minha acepção de matéria fogo) viajam a uma velocidade fantástica através do espaço e, o que é surpreendente, são reflectidos por qualquer matéria. Pelo menos pela matéria não-fogo, o que não invalida a sua reflexão pela matéria fogo que possivelmente é mais fraca por ser mais permeável e é muito difícil de comprovar. Ora como se explica esta viagem fantástica e esta reflexão?

Se houver uma lei de repulsão talvez nos dê essa explicação. (Nos cometas, como adiante frisa­rei, talvez esteja patente esta lei de repulsão). Esta lei em relação ao fogo, evidentemente, será variável de matéria para matéria. De qualquer maneira os raios solares possuem uma velocidade fantástica e consequentemente uma força inerente a essa veloci­dade e são pequenas partículas de matéria, sem dú­vida (pequenos átomos ou partes de átomos, talvez protões). Com certeza ao chocarem com a Terra, ou antes, com qualquer matéria que não possam atravessar devem oferecer uma certa resistência e logicamente uma força de repulsão (de empurrão, digamos antes). Depois possivelmente serão projec-

                                                                   22

 

tados noutra direcção dando origem à reflexão (com perca talvez de alguma da sua potência inicial).

Atendendo a estas circunstâncias talvez não seja de todo ilógico formular as seguintes leis:

1.a) Lei da atracção universal. A matéria não--fogo atrai matéria não-fogo na razão directa das massas e na razão inversa do quadrado das distân­cias, atracção essa variável de matéria para matéria.

2.a) Lei da repulsão universal. A matéria fogo repele as matérias fogo e não-fogo na razão directa da reacção que a produz e na razão (?...) da distân­cia, repulsão essa variável de matéria para matéria.

A primeira está cientificamente provada com excepção da variação de matéria para matéria. Veja­mos se há alguma razão para existir esta variação.

Pela queda dos graves observou-se que o tempo da queda é igual quer para um quilo de chumbo quer para um quilo de algodão. Isto parece contra­dizer a minha afirmação. No entanto nestas medi­ções do tempo de queda foram, com certeza, des­prezados uns milésimos e é muito provável que es­teja nesse arredondamento a variação de atracção. De facto essa variação deve ser ínfima e só poderá ser notada em grandes massas de matéria, o que torna muito difícil a sua mensurabilidade.

Vejamos agora como se comporta a matéria com as leis de atracção. No nosso planeta, por exem­plo, os líquidos deslocam-se sobre os sólidos. Como resultado temos as marés. Isto de qualquer forma não quer dizer que uma determinada massa de água sofra maior atracção que uma massa igual de terra. No entanto cria situações diferentes e faz possivel­mente variar as condições de atracção. Notemos que por efeito de atracção a massa de ar ou seja a atmosfera da Terra deve sofrer também deslocações

23

 

mais ou menos de acordo com as marés. Como o estado gasoso se desloca sobre o líquido e sobre o sólido, estas deslocações devem ter uma amplitude muito maior que a dos líquidos em relação aos sóli­dos. Por causa de o estado gasoso envolver a Terra por completo, este fenómeno, se existir, só poderá ser observado em toda a sua magnitude fora do pla­neta. Se não existisse cair-se-ia na conclusão de que uma determinada massa de ar não sofre atracção. Na superfície da Terra este fenómeno é de difícil comprovação, pois a temperatura e correntes de ar devem ter influência na medição da camada atmos­férica. Mas mesmo que não tivessem, a própria atrac­ção que sofre a massa de ar prejudica com certeza o seu peso em relação ao centro da Terra. Disse atrás que estas deslocações não provavam a variação de atracção de matéria para matéria. No entanto se quisermos analisar a questão por este lado talvez cheguemos a uma conclusão. De facto se a atracção fosse igual para toda a matéria não se dariam estas deslocações, pelo menos da forma como se realizam. Por hipótese, suponhamos que num determinado momento a força principal de atracção está a incidir no centro do mar. Dar-se-ia então uma espécie de sucção, pois a parte líquida seria a mais atraída por estar mais perto da força de atracção e, nesse mo­mento seria natural que desse origem a marés bai­xas em todas ou quase todas as margens. Ora pare­ce-me que não c assim que se passa. Quando é baixa-mar na parte do Oceano Pacífico que banha a Ásia não é baixa-mar na parte do mesmo Oceano que banha a América. (Parece-me que meti água neste capítulo). No entanto podemos argumentar que outros movimentos da Terra se opõem a essa força de atracção ou que essa força de atracção não é somente aplicada em especial ao centro do

                                                               24

 

mar, mas sim a todo o hemisfério ou a todo o pla­neta. Note-se que este último caso, a força de atrac­ção aplicada duma maneira geral a todo o planeta, também tem possibilidades de corroborar a minha teoria pois, se não houvesse variação de atracção de matéria para matéria, a atracção do planeta dar-se-ia de uma forma única e perfeita para toda a matéria e, portanto, não poderia haver deslocação dos líquidos em relação aos sólidos e assim as ma­rés não poderiam ser explicadas, pelo menos, pela lei da atracção universal.

O que me leva a crer numa variação de atrac­ção (ainda que muito diminuta) de matéria para matéria é uma melhor análise, por assim dizer, do fenómeno de atracção. É muito provável que a atrac­ção da matéria seja originada por campos magnéti­cos criados pelas diferentes massas de matéria. Se assim for bastará provar uma variedade, por assim dizer, de campos magnéticos com propriedades dife­rentes para qualquer variedade de matéria, para estar provada a variação de atracção de matéria para matéria. De facto temos como prova o nosso planeta que não é mais que um enorme imã que voga no espaço. Sabemos também ou poderemos deduzir que qualquer quantidade de matéria ou, por melhor dizer, qualquer corpo dá origem a um campo magnético, ao seu campo magnético. Se frac­cionarmos um corpo, cada uma dessas fracções fica por assim dizer formando outro corpo com o seu campo magnético. O mesmo acontece se juntarmos vários corpos. Ficará um corpo único com o seu cam­po magnético. Ora os campos magnéticos dos diver­sos corpos que possam existir, quer sejam considera­dos isolados no espaço, como a Terra, o Sol, etc., quer considerados em fracções constituintes desses outros, como uma pedra, um animal, um protão,

25

 

etc., são variadíssimos e ainda estão, na maior parte, por estudar.

Esta variação também se observa de matéria em matéria. Sabemos muito bem que tal matéria tem certas propriedades magnéticas e que uma outra  matéria  tem  outras   propriedades   magnéticas muito diferentes e, como frisei, em algumas matérias ainda por estudar e determinar. Ora num corpo formado por várias matérias, as diversas propriedades magnéticas destas tendem com certeza a harmonizar-se criando um certo campo magnético com propriedades até talvez muito diferentes das que o originaram.  Este campo magnético é único, pois, ainda que aventássemos a hipótese da criação de dois ou mais campos magnéticos, estes estariam interligados formando assim um único e inalterável pelo menos enquanto não variasse a forma e estrutura do corpo. Acontece que os campos magnéticos de vários corpos juntos também devem ter tendência para harmonizarem-se criando assim um campo magnético único.                                                                           

Há, por assim dizer, na Natureza uma tendência para a harmonia, o que aliás é até muito lógico e explicável. De facto, se porventura houvesse ou fosse criada determinada desarmonia implicitamente daria origem a duas forças contrárias, ou por melhor dizer, a duas oposições que deixadas em li­berdade tenderiam a anular-se reciprocamente através do tempo e do espaço até se transformarem num todo harmónico. Ora sendo assim, também os campos magnéticos de corpos separados pelo espaço (note-se que existe um único campo magnético para cada corpo) tenderiam a harmonizar-se for­mando um campo magnético único e exercendo assim uma atracção magnética entre esses corpos através do espaço que os separa.

 

                                             26

 

 

Note-se que esta separação é fictícia, pois entre os corpos celestes que vogam no espaço existe ma­téria. Simplesmente essa matéria não é, digamos, tão consistente e possivelmente não terá proprieda­des magnéticas tão potentes como a dos corpos. Porém talvez sirva até de meio de condução da força de atracção magnética entre os corpos celestes. Bem, com estes pontos de vista mais ou menos assentes, vejamos agora outra coisa. Como já disse, a Terra não é mais que um enorme imã que voga no espaço. Por analogia é muito natural que os outros plane­tas também sejam enormes imãs que vogam no es­paço. Até não será querer especular muito dizer que qualquer corpo celeste não é mais que um enorme imã que voga no espaço.

Ora todos os corpos celestes, em virtude talvez dos seus movimentos, tomam uma forma mais ou menos esférica, com excepção do planeta Saturno que, além da esfera, tem uma coroa ou argola em torno, talvez natural ou talvez artificial (o que pro­varia a existência de seres inteligentes neste pla­neta). (Isto já é fantasia). Assim vamos estudar o que acontece com estes imãs esféricos. Tomemos como comparação a própria Terra e a Lua. A Terra é uma esfera ou antes uma pêra, mas neste caso abstraímos a forma real para generalizarmos, o que pouca importância terá, pois as condições em ambos os casos manter-se-ão idênticas. Por tanto vejamos o que acontece com a Terra e não será ilógico pen­sarmos que também acontecerá com todos os corpos celestes. A Terra é uma esfera-imã que tem um polo norte e um polo sul. Cria portanto um campo mag­nético esférico ou talvez por melhor dizer cilíndrico com um determinado eixo, eixo este que tem numa extremidade o polo sul e na outra extremidade o polo norte. Corri a Lua deve acontecer exactamente

27

 

o mesmo. Portanto estamos na presença de dois campos magnéticos esféricos ou cilíndricos mais ou menos idênticos, embora talvez com potências dife­rentes.

Se abandonássemos dois campos magnéticos esféricos ou cilíndricos (como queiram) no espaço dotando-os dos movimentos mais mirabolantes que a nossa imaginação lhes queira dar (veremos adiante como poderão ser originados estes movimentos), qual seria a tendência desses dois campos magnéti­cos se estivessem à distância um do outro suficiente para não se atraírem ao ponto de formarem um campo magnético único? Penso que seria a seguinte:

A) Os eixos desses dois campos magnéticos tenderiam a orientarem-se por influência recíproca até ficarem paralelos e com os poios norte e sul dum campo invertidos em relação aos do outro. (Pólos do mesmo sinal repelem-se e poios de sinais contrá­rios atraem-se).

B) Quaisquer movimentos de que cada um es­tivesse dotado tenderiam a transformarem-se em movimentos de rotação em torno do seu eixo por causa da necessidade do paralelismo entre eixos.

C) Já em movimento de rotação, este movi­mento deveria manter-se devido à inércia e trans­formar-se num movimento constante e uniforme por falta de travão ou aceleração (visto estarem abandonados no espaço).   

D) Durante o desenrolar destas eventualidades e mesmo por causa disso poderia, ou melhor, deve­ria dar-se um dos seguintes casos: 1) Se os dois cam­pos magnéticos fossem de potências sensivelmente iguais descreveriam em torno um do outro movi­mentos variados até estabilizarem uma harmonia e

                                                                     28

 

ficarem a descrever uma figura geométrica deter­minada c constante no tempo e no espaço (em vir­tude da inércia, abandono no espaço, falta de travão ou aceleração, etc.), figura esta que, logicamente, tenderia a ser curvilínea. (Note-se que esta figura geométrica só seria constante se não houvesse mo­dificação nenhuma na estrutura primitiva dos refe­ridos campos magnéticos). 2) Se fossem de potên­cias acentuadamente diferentes naturalmente o mais potente arrastaria o outro e impor-lhe-ia a descrição de uma figura geométrica à sua volta naturalmente também com tendência a ser curvilínea e, embora condicionado, poderia dispor de uma maior autono­mia em relação a essoutro. Estas condições varia­riam evidentemente com a diferença de potência existente entre os dois campos magnéticos.

Logicamente estas hipóteses apresentadas dar--se-íam não só entre dois corpos ou dois campos magnéticos (como preferirem) mas também entre três, ou quatro, ou número qualquer deles ainda que seja um número infinito.

Evidentemente nestes últimos casos haveria mais hipóteses a considerar, como por exemplo a variação interligada do conjunto e a provável des­locação do conjunto através do espaço, mas de qual­quer modo estoutras hipóteses só poderiam contra­riar ligeiramente as primitivas que considero corno básicas e inalteráveis, pelo menos, no todo.

Vejamos agora a segunda (Lei da repulsão uni­versal). A matéria fogo repele as matérias fogo e não-fogo na razão directa da reacção que a produz e na razão (?...) da distância, repulsão essa variável de matéria para matéria.

Segundo a minha concepção de matéria fogo, esta matéria é por assim dizer a projecção da maté­ria sob a forma de matéria com energia.                                                     

29

 

De acordo com certos estudos em curso há a hipótese de uma transformação da matéria em ener­gia. Em parte considero-a certa e noutra parte erra­da. De facto a transformação de matéria em energia pressupõe como que uma desaparição da matéria. Mas sabemos que a matéria não se transforma em nada. Essa energia que fica não é mais que uma forma de matéria e possivelmente ir-se-á ligar com outra matéria. Na desintegração da matéria, a ma­téria não desaparece, transforma-se.

Podemos até talvez sem exagero considerar a energia e até mesmo o movimento como um estado ou forma da matéria. Ora a produção de energia é por assim dizer uma alteração com aceleração (ou desaceleração) do movimento da matéria. A partir de determinada altura, essa alteração e aceleração do movimento da matéria dá origem à matéria fogo. Uma das características, por vezes, do fogo é o aumento da temperatura da matéria não-fogo. Este aumento de temperatura é originado pela ace­leração da velocidade do movimento molecular. Ora a aceleração progressiva da agitação molecular na matéria não-fogo atinge em determinado mo­mento, momento este variável de matéria para ma­téria, um limite em que se dá a projecção de ma­téria, sob a forma de matéria fogo, contrária às leis da atracção universal. Facilmente podemos con­cluir que qualquer matéria não-fogo tem o seu limi­te de agitação molecular que ultrapassado dá ori­gem à sua transformação em matéria fogo. É de ter em atenção que uma matéria não-fogo com o seu aquecimento dá origem a calor que logicamente é uma projecção de energia e portanto matéria fogo. No entanto esta matéria fogo pode não ter origem na matéria primitivamente aquecida, por esta ainda não ter ultrapassado o tal limite de agitação mole-

                                                              30

 

cular, e sim em outra matéria não-fogo que rodeia a primeira e cujo limite de agitação molecular é anterior ao da matéria não-fogo primitivamente aquecida. É o que acontece com um aquecedor eléc­trico por resistência. O fio torna-se incandescente mas, embora pareça, não se torna completamente em matéria fogo. O que se transforma em matéria fogo é a matéria não-fogo que o rodeia (talvez os electrões que estão em excesso).

O MOVIMENTO DA MATÉRIA. Quando falei em dotar os corpos (que formam campos magnéti­cos) de movimentos, poderíamos perguntar: Quem é que daria esses movimentos aos corpos? Ou an­tes: o que é que originou os movimentos dos cor­pos? Em princípio responderia pura e simplesmen­te: Qualquer reacção química poderia originar o movimento de toda a matéria existente no Universo (movimento transmissível em cadeia de matéria a matéria), se por acaso se desse a hipótese de toda essa matéria, em determinado momento, estar abso­lutamente parada, isto é, desprovida de qualquer movimento independente entre si ou entre o con­junto de toda a matéria. No entanto este assunto tem forçosamente de ser mais desenvolvido, pois se assim não fosse ficaria sem resposta a pergunta: Então qual o movimento que deu origem a essa reacção química? Analisemos bem a questão. Quan­to a mim esse movimento mínimo que daria origem ao movimento de toda a matéria sempre existiu e sempre existirá: é infinito (no princípio e no fim). Se a matéria sempre foi e será eterna, o movimento da matéria é função da própria matéria.

Vejamos esta hipótese: Há matéria no espaço. Essa matéria é desprovida de qualquer movimento. Essa matéria forma um só corpo ou vários corpos (interligados ou desligados, como queiram). Se for-

31

 

ma vários corpos, estes são regidos pela lei da atrac­ção universal. (Esta lei pode originar movimento). Se forma um só corpo essa matéria não deixa por isso de estar regida pela mesma lei de atracção.

Portanto, para não se poder dar qualquer mo­vimento (originado pela referida lei da atracção) seria necessário que a matéria estivesse sistemati­camente ordenada em relação ao centro ou centros de atracção da massa ou massas de matéria.

De facto analisemos a matéria. A matéria é formada por átomos. Se subdividirmos estes e con­siderarmos a parte mais ínfima, com que ficamos? Ficamos, certamente, com urna coisa que tende pa­ra uma esfera perfeitíssima. Garanto-lhes que é ex­tremamente difícil, mesmo abstraindo a lei da atracção universal, equilibrar uma esfera, ainda que imperfeita, sobre uma outra esfera. Agora se considerarmos os milhões de esferas que são pre­cisos para formar uma pequena porção de matéria chegaremos com certeza à conclusão de que seria absolutamente necessário que se dessem determi­nadas condições muito especiais, ou melhor, mes­mo muito essenciais, para que não se desse nenhum movimento da matéria, ou antes, para que todas essas esferas não escorregassem, digamos assim, umas nas outras. (Mas podemos mesmo considerar que não são esferas e têm outra forma qualquer para também se darem estas circunstâncias). Desta maneira logo que se desse um pequeníssimo movi­mento de escorregamento entre essas ínfimas par­tes da matéria seria o suficiente para poder dar origem a uma reacção química pelo encontro de duas substâncias que teria como consequência a agitação (em cadeia) de toda a matéria com tantas outras reacções químicas e físicas secundárias ine­rentes (que bem podemos actualmente observar).

                                                                32

 

Este pequeníssimo movimento poderia levar milhares ou milhões de anos, ou melhor, um perío­do qualquer de tempo a processar-se até originar a primeira reacção, reacção-base digamos assim, vis­to o tempo não contar para este caso e tanto mais que, sendo o tempo infinito, poderemos dispor de tanto quanto for necessário para este fim. No entanto podemos talvez afirmar que, ainda que na pior das hipóteses a origem do movimento da matéria se tivesse dado desta forma (no que não creio muito), esse pequeníssimo movimento sem­pre existiu, isto é, é infinito no princípio e no fim, pois que se não tivesse existido sempre, jamais poderia existir e a matéria manter-se-ia eternamente imóvel. Analisando estes pontos de vista é lógico pressupor que, sendo assim, também nunca parará o movimento da matéria e, portanto, este movimento será eterno, isto abstraindo, claro, a velocidade desse movimento. (Esta velocidade também deve obedecer a determinadas leis; pelo menos, a leis de harmonia). Vejamos agora, por curiosidade, quais as condições que seriam indis­pensáveis para que no espaço não houvesse e ja­mais pudesse haver qualquer espécie de movimento.

A) Deveria a temperatura no espaço conser­var-se no zero absoluto para, desta maneira, se dar a imobilização dos movimentos moleculares.

B) Deveria toda a matéria existente no espaço conservar uma disposição harmónica perfeitíssima, uma em relação a qualquer outra, para nunca po­der dar origem a uma possível deslocação (escorre­gamento) de matéria sobre outra matéria com as inerentes reacções químicas e físicas.

   C)    Deveriam as leis que nestas circunstâncias

33

 

existissem não terem jamais alguma possibilidade de originar qualquer movimento por mais diminuto que fosse.

D) Deveriam todas estas condições serem infi­nitas no tempo e no espaço, principalmente no es­paço, pois se o fossem no espaço sê-lo-iam obvia­mente no tempo.

O UNIVERSO. O Universo é o conjunto da ma­téria, do espaço, do tempo e, podemos talvez dizer, da velocidade de agitação molecular da matéria, ou mais simplificadamente, do movimento. Ë tudo incluindo o nada (ou, c tudo dentro do nada). Todos estes elementos que constituem o Universo não se podem sobrepor, embora estejam interligados. uma correspondência única entre todos eles.

A matéria e o espaço. Dois bocados de matéria não podem ocupar simultaneamente o mesmo es­paço. E também dois pontos do espaço não podem simultaneamente conter a mesma matéria. (Embora aparentemente pareça ser possível).

A matéria e o tempo. A mesma matéria nunca poderá situar-se duas vezes no mesmo tempo. Para isto seria necessário um retrocesso no tempo que já vimos ser impossível. (Não confundir situações idênticas com o mesmo tempo).

A matéria e o movimento. Sendo o movimento uma função da matéria através do tempo e do es­paço é natural que nunca se dêem dois movimentos da matéria absolutamente iguais. Embora seja esta hipótese a que tem mais probabilidades de se rea­lizar, nunca se verificaria, pelo menos, no mesmo tempo e seria pouco provável no mesmo espaço, o que, só por isso, a torna diferente. Quanto a da­rem-se dois movimentos simultâneos da mesma ma­téria é absolutamente inadmissível, pois a matéria

                                                              34

 

tem um movimento único em determinado momen­to embora as causas desse movimento sejam varia-díssimas. O movimento não é mais que a desloca­ção na direcção da força resultante de todas as for­ças que impendem sobre a matéria e que em casos normais devem ser duas: uma força rectilínea ou curvilínea através do espaço e outra em torno de si própria, da própria matéria.

Quanto à sobreposição dos outros elementos independentemente da matéria não tem razão de existir, pois todos eles são função da própria maté­ria e sem a existência desta deixariam também de existir. Não há portanto relação alguma, pelo me­nos lógica, entre esses elementos. Aliás, poderíamos talvez analisar o espaço e o tempo, mas verifica-se que, pelo menos em relação ao tempo, não há qual­quer possibilidade de sobreposição seja com o que for.

Os astros são agregados de matéria com deter­minadas características. Vejamos a sua subdivisão: Estrelas, Planetas, Cometas e Nebulosas. Há outros corpos que também podem ser considerados astros, mas não interessa fazer-lhes qualquer referência. Refiro-me a asteróides e fragmentos doutros astros.

ESTRELAS. São agregados de matéria em com­bustão. Afora a sua grandeza, todas as estrelas de­vem ter as mesmas características. Vejamos a pro­vável constituição dessas características.

A matéria e o movimento nas estrelas. Uma estrela é formada essencialmente por matéria fogo em maior quantidade ou quase toda e matéria não--fogo. Ë natural que na sua origem só fosse consti­tuída por matéria não-fogo: combustíveis e comburentes. Nesse altura ocuparia um determinado vo­lume no espaço. Depois qualquer circunstância ori­ginou o fogo, ou antes, a matéria fogo que se pro-

35

 

pagou a toda a matéria não-fogo que tinha proprie­dades combustíveis. É de notar no entanto que qualquer combustão leva determinado tempo a realizar-se por melhores combustível e comburente de que disponha. A combustão numa estrela pode levar anos, séculos ou mesmo milhões de séculos. Mas terá inexoravelmente de acabar em determi­nado momento: Quando se tiver esgotado todo o combustível ou todo o comburente. E também de­vido à libertação e separação da estrela de determi­nados elementos constitutivos e essenciais da maté­ria fogo, esta não terá, pelo menos antes de trans­formar-se em matéria não-fogo na sua totalidade, possibilidades de alimentar a combustão indefi­nidamente. Desta forma qualquer estrela acaba por se transformar num planeta. Nessa altura, a repul­são torna-se nula e provavelmente este planeta for­mado aproximar-se-á de outra estrela e entrará nesse sistema. Evidentemente a extinção duma estrela processa-se duma forma extremamente lenta, pelo que não deve originar desequilíbrio notável no Uni­verso. Mas ainda que originasse algum desequilíbrio sabemos perfeitamente que cedo ou tarde vol­taria a equilibrar-se.

Vejamos agora o processo de formação e extin­ção duma estrela. Primitivamente a futura estrela era uma massa de combustível, comburente e outras matérias não-fogo (estas matérias em menos quanti­dade, talvez numa percentagem muito reduzida). Em determinado momento essa matéria não-fogo trans­formou-se em matéria fogo, isto é, deu-se a combus­tão. Esta combustão poderia ter origem em qualquer acontecimento até mesmo estranho e afastado dessa massa (como, por exemplo, o bombardeamento, di­gamos assim, dessa massa por meteoritos ou quais­quer protões do espaço). Também podia ter tido ori-

                                                   36

 

gem dentro dessa massa por qualquer reacção quí­mica ocasionada pelo encontro de duas substâncias que reagissem entre si.

Esta passagem da matéria não-fogo a matéria fogo deve processar-se por uma forma muito violen­ta, pois essa massa de matéria é já formada por com­bustível e comburente que, como sabemos, dura mui­tos milhões de anos a arder. Pode mesmo desinte­grar a referida massa de matérias e espalhá-la pelo espaço, não dando assim origem, como é óbvio, a uma só estrela, mas podendo dar origem a várias es­trelas e cometas (e possivelmente também planetas) ou simplesmente a fragmentos variados (autênticos projécteis através do Universo), conforme o grande ou pequeno volume da massa. Mas na hipótese admissível de a não desintegrar, propaga-se o fogo a toda a massa de matérias transformando-a numa estrela. Ainda que a referida massa de matérias fos­se desprovida de qualquer movimento, o que não é nada natural (nem muito admissível), entraria desta forma em movimento, pois não é possível haver fogo ou matéria fogo sem movimento. Esta estrela projectaria no espaço momento a momento uma quantidade de matéria fogo enorme a uma veloci­dade fantástica, matéria esta que viajaria no espaço (a uma velocidade fantástica) até ser absorvida por qualquer outro astro, tendendo a transformar-se em matéria não-fogo em virtude de ir perdendo a velo­cidade inicial por cedência a outros corpos. Esta estrela levaria anos ou milhões de séculos a projec­tar essa matéria e energia no espaço. A pouco e pouco esta potência de projecção iria enfraquecendo até à extinção por exaustão da matéria-fogo. Então esta estrela transformar-se-ia num planeta, podendo até ter uma passagem intermédia por cometa.

Isto se tudo se passasse ordenadamente, pois

37

 

poderia atingir um ponto crítico em que explodisse e se fragmentasse em milhares ou mesmo milhões de projécteis, com percussões tremendas em todos os astros circunvizinhos. Daria um planeta com certeza pois teria matéria não combustível nem comburente e, mesmo que não tivesse, toda a matéria combustí­vel e comburente daria origem a matéria não com­bustível nem comburente. Evidentemente numa por­ção muito inferior à quantidade primitiva da massa. Ora nesta série de transformações sucessivas dar-

-se-ia também uma variação de leis e fenómenos que iriam regendo a vida (chamemos-lhe assim) desta massa no espaço. Primeiramente, antes da sua trans­formação em estrela, comportar-se-ia como um pla­neta, tivesse a forma que tivesse. Teria uma tempe­ratura muito vizinha do zero absoluto (lembremo-

-nos de que seria uma estrela em potência e portanto a menor quantidade de calor poderia desenvolver a sua transformação), e atrairia e sofreria atracção de todos os astros circunvizinhos.

Deveria estar muito distante da estrela mais próxima e como se deslocava no espaço seria muito provável que se aproximasse continuamente duma estrela qualquer, estrela esta que poderia até não ser a mais próxima. Parto do princípio (mais aceitá­vel) de que se deslocaria no espaço uma vez que es­tava sujeita a todas as leis de atracção e repulsão dos astros. Mas se considerarmos que se mantinha parada o problema não sofre alteração. Nesse caso os outros astros deslocar-se-iam. E só poderia man­ter uma distância igual em relação a qualquer astro se se desse a coincidência de conservar um movi­mento absolutamente igual ao desse astro. Ora como qualquer movimento é sempre variável, ou antes, está constantemente a variar, essa coincidência seria muito pouco provável. Mas ainda que se desse em

                                                  38

 

relação a um ou mesmo vários astros, não se daria com certeza em relação a todos. Acontecia, de qual­quer forma, que tenderia a aproximar-se continua­mente dum grupo qualquer de astros onde natural­mente poderia existir uma estrela.

Desta maneira as condições de temperatura iriam sofrendo uma alteração progressiva. Note-se no entanto que para a sua transformação em estrela não seria preciso nada disto.

Poderia dar-se essa transformação por uma reacção físico-química qualquer dentro da própria massa pois, por muito lento que fosse o movimento, haveria sempre um movimento qualquer. Após a sua transformação cm estrela as condições preexistentes seriam modificadas. A temperatura que era vizinha do zero absoluto passaria a ser a do plasma. A lei de atracção que existia seria modificada pela lei de repulsão e, portanto, diminuída. A atracção em rela­ção a alguns astros distantes poderia até passar de um valor positivo para um valor negativo. As condi­ções de todos os astros circunvizinhos seriam extremamente modificadas, principalmente dos que esti­vessem dentro do seu raio de gravitação. Poderiam dar-se explosões no seu plasma com projecção de matéria, matéria esta que poderia formar cometas c planetas que ficariam muito provavelmente fazen­do parte do seu sistema. Evidentemente esta estrela atingiria um auge e depois declinaria até se extinguir. Ë natural que tudo isto se realizasse durante muitos e muitos biliões de anos. Mas o tempo não conta no Universo. Também podia realizar-se orde­nada ou desordenadamente mas, através do tempo, a harmonia apareceria sempre.

PLANETAS. São agregados de matéria na maior parte constituídos por matéria não-fogo podendo ter ou não matéria fogo. Podemos analisar várias hipó-

39

teses para a sua formação. Entre elas vou expor as seguintes:         

A) Teriam tido origem na explosão de uma nebulosa primitiva assim como a estrela a cujo sistema ficaram a pertencer. Assim também teriam matéria fogo proveniente dessa explosão. A pouco e pouco iriam gastando essa matéria fogo até ficarem só com matéria não-fogo.                     

B) Teriam sido originados tal qual existem agora, com maior quantidade de matéria fogo evi­dentemente.

C) Seriam a consequência do arrefecimento dum cometa que por fim estabilizou a sua órbita.

D) Primitivamente eram estrelas que a pouco e pouco foram gastando a matéria fogo e, desta ma­neira, por arrefecimento progressivo da superfície deram origem à sua fornia actual.

Ë de notar que estas hipóteses até poderiam dar--se simultaneamente.

Vamos analisar melhor a última. Não há dúvida que uma estrela actual vai arrefecendo, ou antes, vai gastando a matéria fogo de que é formada e como ninguém deita combustível nessa enorme fornalha, acabará por se extinguir.

É muito difícil apercebermo-nos da progressiva extinção duma estrela pois essa variação é muito pequena e só seria notada ao longo de vários milhões de anos. Uma estrela após a sua extinção dá origem a um planeta formado por matéria fogo e matéria não-fogo. A matéria fogo vai sucessivamente arrefe­cendo até se transformar num planeta, como o nosso planeta Terra, com um mínimo de matéria fogo que mesmo assim de vez em quando ainda tem uns esca­pes violentos. Mais tarde dará origem a um planeta

                                                                 40

 

sem fogo nenhum, ou digamos, com muito poucas possibilidades, assim como a Lua. Note-se que tudo isto se refere ao que observamos na superfície, pois no interior, no núcleo, é natural que exista sempre matéria fogo devido à enorme pressão lá existente. Essa diminuição vai sendo progressiva e dar-se-á ao longo de milhões ou biliões de séculos. Mais tarde, quando essas formas tiverem sido reduzidas, uma estrela como o nosso Sol e o sistema solar, que está a um mínimo de distância de 4,3 anos-luz da estrela mais próxima, o que é uma distância fantástica, se se extingue, isto ao fim de milhões e milhões de sé­culos, acabará por ficar muito distante duma outra estrela. A não ser que entretanto se tenha aproxi­mado duma e fique a fazer parte desse sistema este­lar com outra estrela a fornecer-lhe energia e por­tanto também a todo o sistema solar que provavel­mente ainda não conhecemos bem e completamente. No que diz respeito a planetas, conhecemos os que estão dum lado do Sol. É natural que não haja mais nenhuns, mas poderá haver. Por uma coincidência muito pouco provável (seria fantástica) poderá haver um planeta exactamente em oposição à Terra (do outro lado do Sol) e supondo que esse planeta tem uma órbita quase que igual à da Terra (seria um seu oposto), será invisível para nós, para lá do Sol, nem nunca o conseguiríamos ver. Só se conseguíssemos passar por detrás do Sol.

Mas, pelo menos do lado de cá, como eu lhe cha­mo, esses planetas são visíveis e conhecemos já uma quantidade deles: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Neptuno, Plutão. Este últi­mo já foi descoberto muito mais tarde que os outros por cálculos fantásticos. Estas coisas enfim estariam todas mais ou menos ordenadas. Mas para lá do Sol, como digo, há dificuldade em ver.

41

 

Se essas órbitas coincidirem com as da Terra não teremos possibilidades de ver para lá do Sol. Só por outros meios como sejam talvez por ondas de rádio, radar, enfim, o que a ciência tem ao nosso alcance. Mas mesmo assim ainda será um pouco di­fícil. Ora a Terra é formada por matéria que pode ser combustível e tem também comburente. Se ama­nhã o Sol se extinguir e ficar a essa distância de 4,3 anos-luz da estrela mais próxima (pode até ficar a maior, pois pode estar a afastar-se embora aproxi­mando-se de outra zona), que acontecerá? Não have­ria matéria fogo nenhuma e a temperatura aproxi­mar-se-ia muito do zero absoluto e nessas condições dar-se-ia quase uma paralisação da matéria. Quase, pois verdadeiramente não se daria essa paralisação. Para se dar teria de se atingir mesmo o zero absoluto ou menos que o zero absoluto e isso está provado por absurdo que não é possível. Seria preciso haver uma pressão negativa e os cientistas sabem muito bem como se prova essa impossibilidade. Mais tarde portanto que aconteceria se se chegasse a essa quase paralisação da matéria? A matéria deixaria de ter um poder de união tão grande entre os átomos e é natural que esses átomos se reduzissem e transfor­massem num mínimo. Se reduzissem até a separa­rem-se os electrões dos neutrões, a separar-se a pró­pria estrutura do átomo por falta de coesão, do calor que lhes permite essa união. Então que daria? Daria uma estrutura igual e esses átomos passariam a ser átomos simples, reduzidos à sua menor expressão. Ficaria tudo em hidrogénio que é um átomo dos mais elementares ou talvez até menos do que isso, ou seja, um átomo ou componentes do átomo com um mínimo de estrutura. Ora esses componentes to­dos que existem actualmente transformar-se-iam nisso. Que ficaria? Ficaria um agregado de massa de

                                                                   42

 

matéria que em potência seria uma nova estrela. Bastaria a mais pequenina fricção, a mais pequenina matéria fogo. Estávamos muito afastados dela, pois isto seria consolidado em milhões de anos e portanto sem possibilidades de alteração, sem qualquer efeito de calor que produzisse uma explosão por pequena que fosse. Isto foi transformado no zero absoluto ou quase. Quase a atingir o zero absoluto transformou--se tudo e os elementos por falta de coesão, daquela força que os electrões têm à volta dos seus núcleos, tudo dependente duma força de calor, de energia vi­tal. Há um mínimo de calor para haver essa energia. Se o calor todo faltasse dava-se o desmembramento da coesão que actualmente existe. Dando-se esse des­membramento ficaria, como já disse, uma estrela em potência. Ficaria um agregado de matéria, sem coe­são nenhuma, como elementos simples, mas com­bustíveis e comburentes que poderiam dar uma reac­ção qualquer. Se fosse bombardeado por outra es­trela qualquer com um mínimo de luz, daria origem a outra estrela este conjunto destes planetas todos que poderiam ter formado um aglomerado de massa fantástica, pois depois dessa falta de coesão o volu­me aumentaria extraordinariamente em proporções nem por nós imaginadas e poderiam ligar-se umas às outras (quem nos diz que a massa da Terra não poderia ligar-se à da Lua e à do Sol e à de todos os outros planetas?). De qualquer maneira, ou uma só ou várias massas ficarão massas potenciais para vi­rem a ser estrela ou estrelas assim que aparecesse um bocadinho de calor que originasse uma primi­tiva explosão e depois propagação à matéria toda. Ora o Sol é natural que dê um planeta como a Terra e se se aproximar doutro sistema estelar e ficar a gravitar à sua volta então já não se dará nada disto e far-se-á um outro sistema de planetas. A Terra pri-

43

 

mitivamenté era muito maior em volume e se nós conseguíssemos pensar só no que seria o volume da água existente na Terra transformada em oxigénio e hidrogénio isso daria um volume fantástico. Se se tivesse dado uma explosão, daria depois um elemen­to neutro, a água (com possibilidades de se trans­formar outra vez em oxigénio e hidrogénio).

Primitivamente a Terra era uma massa muito maior. Como perdeu a matéria fogo a pouco e pouco é natural que também fosse perdendo na sua traves­sia no espaço e devido à força centrífuga que ela própria cria em torno de si própria e na sua viagem pelo espaço numa órbita elíptica em torno do Sol, a sua própria matéria, mesmo a matéria não-fogo, uma matéria inerente à própria Terra como, por exemplo, a atmosfera. Primeiro perder-se-iam as par­tes mais voláteis, os gases, e essa atmosfera que ro­deia a Terra irá escasseando e, com certeza, há uns milhões de anos atrás seria muito superior à que existe actualmente. Este facto é atestado pelo porte das árvores antigas que era fantástico. Fetos como árvores. Árvores enormes que não existem já ao de cima da Terra. Porque era possível a existência des­sas árvores (e animais gigantescos)? Façam só uma comparação com o que existe actualmente e vêem logo. Porque a pressão à superfície da Terra era talvez dez ou vinte vezes maior do que é actualmen­te, ou mesmo mais. E para mais vejam. Uma árvore no cimo duma montanha é raquítica. Porquê? Por­que não tem uma pressão que a obrigue a enrobustecer-se para a vencer, para forçar essa pressão, e a ter força suficiente para se desenvolver. Uma árvore num vale (na superfície ao nível do mar) já toma portes bem elevados, sendo quase impossível a mes­ma árvore obter portes tão robustos no cimo duma montanha bem elevada. Portanto isso denota que

                                                                       44

 

uma diferença de pressão faz a mesma árvore ter uma configuração diferente. No princípio da Terra a coisa era a mesma. A Terra está constantemente a perder atmosfera até que dará mais tarde um pla­neta como a Lua sem atmosfera quase nenhuma. Mais tarde essa Terra, ou antes o sistema solar, dará por arrefecimento e desmembramento um potencial para uma nova ou novas estrelas. E é natural que este ciclo se repita por séculos e séculos, num movi­mento perpétuo.

O interior da Terra é matéria fogo devido à grande pressão que lá existe. O calor deve aumentar com a pressão até chegar mesmo a transformar a matéria em plasma. É natural que o interior de to­dos os planetas seja assim. Até mesmo o interior da
Lua.                                                                         

COMETAS. Há várias hipóteses para a sua for­mação. Vamos ver uma. Se uma estrela se apaga, a sua extinção dá-se duma forma extremamente lenta. Pode dar-se o caso de essa extinção não ser integral­mente repartida pela sua superfície.

Que aconteceria se se extinguisse mais de­pressa dum lado do que do outro? Chegaria uma ocasião em que a estrela seria metade estrela e me­tade planeta. Com certeza isto traria implicações muito grandes. Por um lado as leis de atracção da matéria não-fogo. Por outro lado as leis de repulsão da matéria fogo. Talvez um cometa seja assim for­mado. Evidentemente também pode ter origem dou­tra maneira. Na explosão, por exemplo, de qualquer agregado de matéria ou na explosão que originará simultaneamente uma ou várias estrelas, um ou vá­rios cometas, um ou vários planetas.

Estas hipóteses ou outras quaisquer também podem coexistir em vários pontos do espaço.

NEBULOSAS. Podem ser:                            

45

 

A) Um conjunto de estrelas, planetas e come­tas; um conjunto de galáxias.    

B) Uma mancha de matéria em arrefecimento e decomposição (com temperatura aproximada do zero absoluto), verdadeiro potencial para um futuro conjunto de estrelas, planetas e cometas.

A VIDA. Ë natural que as condições primitivas de vida fossem muito diferentes das actuais. Ë possí­vel que as plantas e os animais fossem sofrendo mu­tações a fim de se adaptarem às condições existentes que variavam através do tempo. Mas temos de aten­der a uma hipótese. Se as mutações foram progressi­vas, chamemos-lhe assim, também podem vir a ser regressivas e neste caso muito mais facilmente, vis­to que os genes devem conter uma informação, ain­da que muito apagada, da existência anterior. Desta forma poderíamos verificar experimentalmente se as teorias de Lamarck e Darwin estão certas. Basta­ria meter plantas e animais escolhidos numa câmara que teria de ser enorme e com vidro ou vidros no tecto e fazer variar as condições actuais regressiva­mente durante várias gerações (não sei se a vida do homem chegaria para verificar as alterações, mas pelo menos em alguns casos talvez fosse suficiente, tanto mais que regressivamente poderia acelerar-se a experiência, pois como disse os genes devem con­ter informações das gerações anteriores). Nesta ex­periência não nos podemos esquecer das atmosferas e pressão do ambiente. Primitivamente a atmosfera devia ser muito rica em anidrido carbónico e a pres­são deveria ser elevadíssima. Só assim se podem explicar os portes majestosos de antigas plantas. Podemos até, como já disse atrás, fazer uma com­paração com a actualidade. Uma planta no cimo duma montanha é raquítica e no fundo dum vale

                                                            46

 

atinge grande envergadura. Se fosse possível fazer-se esta experiência, gostaria muito de conhecê-la ou, pelo menos, vir a saber dos resultados.

Existe uma confusão no que diz respeito às leis de Mendel aplicadas à formação gamética. Ouve-se frequentemente falar na ligação de duas cobaias de linhas puras. Temos de ter bem presente que as cobaias só podem ter linhas puras em relação a vá­rios caracteres, mas haverá um par de caracteres que, nos indivíduos dióicos ou gonocóricos, não vol­tarão a ter linhas puras. É o par de caracteres que diz respeito aos sexos. É possível que tivesse havido uma primeira linha pura formada por indivíduos (que logicamente seriam hermafroditas ou monóicos) possuidores dos dois pares de caracteres XX e YY. Mas a partir da primeira geração em que os sexos se diferenciaram não mais poderá existir essa linha pura que é apanágio dos indivíduos hermafro­ditas.

Agosto de 1971

                                             47

 

Página em branco

                                           48

 

Alguns pensamentos:

Bem pode tudo querer quem nada tem a perder.

Os Homens quanto mais dinheiro vêem mais miseráveis se tornam.

Se chamares a um Homem burro, ele ficará menos burro.

O acompanhamento dum funeral é o somatório dos amigos e inimigos que o defunto tinha.

A verdadeira Modéstia está em dizer aquilo que é exactamente capaz de se fazer.

A Felicidade só é possível em pensamento ou sem pensamento.

Ë mais prejudicial um mau pensamento que uma má acção.

Agosto de 1971

                                                   49

 

Página em branco

                                             50

 

O Homem não compreende ainda o absurdo da vã tentativa de querer explicar a Origem das Coisas, situando-a num ponto qualquer do Espaço infinito. Espaço este que jamais poderá reduzir ao nada ou mesmo sequer limitar.

Ainda mais absurdo será querer situar esse pon­to obrigatoriamente numa vizinhança do seu ego.

Consegue aperceber-se de Coisas distantes dele biliões de anos-luz. E situa logo esta parte do Uni­verso como o Centro do Universo e pensa como se, para lá desta distância, nada mais existisse. E quan­tos mais biliões de biliões de anos-luz não haverá cheios de Coisas!

Não vê que o Universo (e o Espaço) como Infi­nito não pode ter Centro.

 

                                       51

 

Página em branco

                                      52

 

      Apesar de todo o meu arrazoado não consegui definir com precisão uma das minhas ideias princi­pais: A pseudo explicação de um dos estados da ma­téria.

A matéria tem vários estados, uns conhecidos e outros talvez ainda desconhecidos.

Um dos ainda mal conhecidos é o movimento.

Não haverá dúvidas de que qualquer porção de matéria num momento qualquer terá um movimen­to, movimento esse que variará entre a vizinhança do zero e a vizinhança dum máximo.

Fora destes limites a matéria provavelmente transformar-se-á e passará a outros estados ou for­mas com possibilidade talvez de regresso.

O limite zero parece não ser possível atingir ou ultrapassar.

Para isso seria necessário atingir a temperatura do zero absoluto o que, em interdependência com a pressão, está provado por absurdo ser impossível senão atingir, pelo menos ultrapassar.

(Ao falarmos de qualquer coisa da Natureza não devemos empregar a palavra absurdo, mas antes a expressão «muito pouco provável», pois o que nos pode parecer absurdo, poderá a Natureza explicar por condições e situações para nós sequer insuspei-táveis).

Por oposição, o limite máximo será uma situa­ção de plasma ou provável transformação em energia.

Ora a minha divisão em matéria-fogo e matéria--não-fogo não foi mais que um corte arbitrário neste conjunto para poder estudar e aflorar determinados problemas.

53

 

Já outros antes de mim fizeram também cortes mais ou menos felizes neste conjunto como, por exemplo, a luta eterna entre o fogo e o frio.

Quanto a mim, no Espaço podem existir simul­taneamente os dois limites, com permutas entre eles.

Também no que diz respeito à quantidade de matéria existente no Espaço poderá ser constante ou variar entre o tudo e o nada.

Aperfilho a primeira hipótese se considerar a energia como parte ou estado da matéria.

 


No que diz respeito à quantidade de movimento de toda a matéria existente no Espaço, e conside­rando essa quantidade como a soma de todos os mo­vimentos, também poderá ser constante ou variar entre um mínimo e um máximo (e poderá mesmo esse mínimo e/ou máximo serem infinitos).

 

                                    54

 

UMA NOVA HIPÓTESE PARA A TEORIA DA EXPANSÃO DO UNIVERSO

Suponhamos que, num poço sem fundo e sem fim, deixámos cair sucessivamente vários objectos (numa quantidade enorme).

Que aconteceria?

Todos os objectos cairiam com uma velocidade acelerada progressivamente. Ir-se-iam afastando progressivamente uns dos outros, pois os primeiros a caírem no poço teriam, num determinado momen­to, uma velocidade maior do que os que se lhe seguiam. E cada um teria, num determinado mo­mento, uma velocidade maior do que qualquer outro anterior.

O Espaço é um poço sem fim.

As Galáxias são conjuntos de objectos a caírem nesse poço.

Estes objectos não estão livres de possuírem outros movimentos próprios além do da queda no Espaço.

 

                                       55

 

Página em branco

                                               56

 

Gostaria de, só por mera curiosidade, saber qual a velocidade real da Terra no Espaço.

Será uma velocidade que poderá variar entre a vizinhança do zero e a vizinhança do fantástico.

Também gostaria de saber se a Terra terá a possibilidade ou não de passar pelo mesmo ponto do Espaço duas ou mais vezes.

São perguntas que jamais poderão ter resposta pois é impossível localizar um ponto fixo em relação ao Espaço, dentro do Espaço.

Era preciso para isso que o localizador estivesse fora do Espaço. E ainda que isto fosse possível seria muito difícil a nossa percepção dessa possibilidade.

 

                                57

 

Página em branco

                                              58

 

A IDADE DO GELO NA TERRA

Houve uma época em que a Terra sofreu um arrefecimento e esteve coberta de gelo (totalmente).

Esta asserção causa-me um certa confusão, em certos aspectos.

A análise que vou fazer não quer dizer que es­teja certa e, portanto, as outras teorias erradas. Vou só expor os meus pontos de vista e quem quiser verifique o que mais provável lhe parecer.

Sabemos que uma montanha de gelo contém uma grande massa de água e acumula-se em cima da Terra em camadas com quilómetros de altura.

Podíamos talvez prever o que aconteceria se, por hipótese, todo o gelo existente na Terra se trans­formasse em água.

Embora o gelo seja menos denso que a água, seria provável que a quantidade de Terra agora submersa aumentasse muito, pois a água distri­buir-se-ia horizontalmente e não em altura, como acontece.

Talvez até não fosse ilógico supor que a Terra submergiria toda ou quase toda.

Agora analisemos a quantidade de água que seria precisa para criar uma camada de gelo num continente, por exemplo, o Europeu, camada de gelo talvez com quilómetros de espessura. ; Essa água seria com certeza roubada ao mar e desta forma mais terra emergiria. Bem, isto não quer dizer que o mar não tenha água suficiente para cobrir toda a Terra. Também é possível que antiga-

59

 

mente houvesse mais água na Terra, água esta que por qualquer motivo desaparecesse e continue a desaparecer.

Vejamos agora outro aspecto.

O Sol emite constantemente milhões de calorias por segundo que são em parte absorvidas pela Terra.

Quanto mais recuarmos no tempo maior seria a quantidade de calorias por segundo emitida.

Mesmo que a Terra tivesse estado a maior dis­tância do Sol, teve sempre um círculo máximo pare­cido com o actual Equador onde os raios do Sol dar­dejariam perpendicularmente.

Como será possível conceber essa parte da Terra totalmente gelada e coberta por glaciares?

Só se o Sol se tivesse extinguido ou se a Terra estivesse muito longe, tão longe que não fizesse ain­da parte do Sistema Solar.

O fogo interior na Terra vai-se extinguindo a pouco e pouco.           

Antigamente e quanto mais recuarmos no tem pó mais violento seria esse fogo e mais abundantes seriam os tubos de escape (vulcões).

Isto não quer de maneira nenhuma dizer que não houvesse vulcões sobre o gelo. Mas pelo menos não seria tudo gelo e haveria alguns mananciais de calor.     Hipóteses talvez mais coerentes:

Suponhamos que o Polo Norte se desloca sobre a Terra (com muita lentidão certamente) e completa um círculo máximo (possivelmente helicoidal) num determinado período de tempo (talvez em milhões de anos). Seria mais um movimento da Terra a ser estudado que talvez explicasse a formação de gla­ciares onde outrora existira uma zona tórrida e vice-

                                                             60

 

-versa. Também explicaria uma certa periodicidade destes fenómenos.

A deriva dos Continentes também poderia ser explicada pela passagem de qualquer ponto da Ter­ra, ora por zona frígida, ora por zona tórrida.

No entanto a deriva dos Continentes também pode muito bem ser uma ilusão devida ao desloca­mento do eixo da Terra.

Se os Continentes deslizassem sobre o Sima se­ria natural que mantivessem a sua posição relativa, pois desusariam sobre uma superfície mais ou me­nos esférica.

Evidentemente poderiam ter velocidades de es­corregamento diferentes devido a atritos também diferentes, mas mesmo assim tenderiam a juntar-se formando um Continente único. A não ser que flu­tuassem num vaivém, umas vezes aproximando-se, outras afastando-se, hipótese esta também admis­sível mas muito contrariada pela lei de atracção universal.

Ora se um Continente estiver a submergir devi­do à deslocação de um peso duma camada de gelo, poder-se-ão, dar duas hipóteses.

Ou o Continente é muito pequeno em relação a essa camada de gelo e então submergirá todo e con-sequentemente emergirá outro ou parte de outro Continente para restabelecer o equilíbrio, ou o Con­tinente é muito grande e então submergirá num lado e emergirá no outro. Tudo isto originará um con­junto de movimentos muito complexo acrescido de regressões e transgressões marinhas.

Estas hipóteses processam-se lentamente, mas não invalidam a possibilidade de cataclismos a alte­rarem bruscamente as condições existentes. Assim, se por qualquer motivo o eixo da Terra sofresse uma torção brusca de noventa graus (talvez nem

61

 

fosse preciso tanto), as zonas frígidas passariam para a zona tórrida e pontos da zona tórrida passa­riam para zonas frígidas. Estes pontos gelariam e os gelos derreter-se-iam originando inundações diluvianas e outras catástrofes. O degelo seria muito mais rápido que a deposição até total compensação de gelo em altura nos pontos a gelar.

Uma variação na inclinação do eixo da Terra em relação à eclíptica também poderia originar alte­rações importantes.

Conclusões possíveis:  

O eixo da Terra desloca-se lentamente, percor­rendo os seus extremos um círculo máximo (pouco provável) ou um helicóide (mais provável), podendo qualquer extremo ter estado ou vir a estar em qual­quer ponto do globo terrestre. Na pior das hipóteses a deslocação não é tão ampla e só terá uma ampli­tude de um quarto de círculo ou menos (muito pou­co provável).

De qualquer maneira um ciclo completo deste movimento deve processar-se em milhões ou mesmo milhares de milhões de anos.

Em vários pontos da Terra haverá estratos al­ternados que revelarão a existência de épocas de intenso frio (polo da Terra) e intenso calor (equa­dor). A diferença de idades entre dois estratos do mesmo teor deverá ser igual ou múltipla no mesmo ponto e em pontos diferentes. Será múltipla se, por qualquer motivo, a época que passou não ficou registada. Um motivo poderá ser a irregularidade do percurso dos extremos do eixo da Terra. Outro mo­tivo poderá ser a dificuldade de registo na camada superficial então existente.

Pode-se prever a direcção que está a seguir a deslocação dum extremo do eixo da Terra. Deslocar-

                                               62

 

-se-á do Continente que está a emergir para o Conti­nente que está a submergir.

Haverá uma linha de ruptura entre a zona que está a ser submersa pela deslocação do polo norte e a zona que está a emergir pelo afastamento do polo sul.

Haverá outra linha de ruptura entre a zona que está a ser submersa pela aproximação do polo sul e a zona que está a emergir pelo afastamento do polo norte.

Estas duas linhas de ruptura ou estão unidas formando um anel, ou separadas talvez por outras duas linhas de ruptura que fazem com elas uma cruz, originadas por quaisquer outras forças.

Tudo isto poderá submergir qualquer Continen­te e fazer aparecer outro. No entanto processa-se tão lentamente que o Homem mal se aperceberia mesmo se vivesse o tempo suficiente para observar um ciclo completo.

Se o Globo Terrestre tivesse uma temperatura bem repartida e sensivelmente igual em todos os pontos nada disto se dava. Mas em virtude das gran­des diferenças de temperatura a água gela nuns pon­tos e evapora-se noutros.

Dá-se como que uma transferência da água do equador para os poios.

 água solidificada vai-se sobrepondo em cama­das que crescem em altura transferindo um razoável peso para os pontos em que se deposita.

Se, por hipótese, o centro do local de depósito fosse o centro do Continente Europeu talvez o peso fosse capaz de submergir este Continente totalmente ou, pelo menos, numa grande parte.

Provavelmente existem agora um ou dois Conti­nentes submersos que já estiveram emersos em tem­pos anteriores (Polo Norte e Polo Sul).

 

                                  63

 

 

     Devido à necessidade de paralelismo entre eixos de astros (conforme referi noutro capítulo) é muito provável que o plano da eclíptica descreva uma volta completa em torno do Sol no mesmo tempo em que um extremo do eixo da Terra dá uma volta completa à Terra (durando talvez milhões de anos).

Implicações:

: Os dois Poios podem deslocar-se para cima de dois Continentes. Podem deslocar-se para o Mar. Podem deslocar-se o Polo Sul para o Mar e o Polo Norte para cima dum Continente. Podem deslocar-se o Polo Sul para cima dum Continente e o Polo Norte para o Mar.

Estas quatro formas de deslocação implicam condições diferentes de ciclo para ciclo.

Devido a um deslocamento da eclíptica sensivel­mente igual nos dois poios terrestres seria natural que as temperaturas médias anuais originadas nos dois poios também fossem sensivelmente iguais.

No entanto qualquer variação de temperatura ë absorvida mais rapidamente pela terra do que pela água.

Assim a terra aquece e arrefece mais rapidamen­te que a água. E também, como é óbvio, a água con­serva mais tempo o frio e o calor.

Sejam quais forem as condições de temperatura nos Poios, provavelmente tornar-se-ão mais quentes ou mais frias conforme os Poios estejam no Mar ou em cima dum Continente (ou vice-versa!).

Como a água conserva melhor o calor ou o frio do que a terra, deverá levar mais tempo a adquirir temperaturas mais baixas (a sofrer variações de temperatura).

Assim, um Polo no mar deveria ter temperatura mais alta que sobre a terra. O gelo e o degelo deveria levar mais tempo a realizar-se.                                                                   

 

                                                             64

 

Em terra deveria dar-se talvez exactamente o contrário. Ter temperatura mais baixa e a água gelar ou degelar mais rapidamente.

A amplitude do local gelado deveria ser maior em terra do que no mar.

Se as condições de temperatura do Polo Norte fossem diferentes das do Polo Sul mais compli­cações resultariam.

Todas estas hipóteses deveriam ser verificadas.

Polo situado no mar.

A sobreposição do gelo cresce muito mais em profundidade do que em altura, tomando como re­ferência o nível do mar.

Talvez o bloco de gelo formado seja, nas mes­mas circunstâncias, maior no mar do que em terra, por ter a matéria prima (água) mais à mão, por não subir tanto em altura e ter assim uma camada atmosférica mais rica em volume de vapor de água, por conservar talvez melhor o frio, etc.

Polo situado em terra.

Tomando como referência o nível do mar, a so­breposição do gelo cresce quase exclusivamente em altura. A matéria prima (água) vem toda da atmos­fera.

Em circunstâncias idênticas, o bloco de gelo formado deverá ter temperaturas mais frias em terra do que no mar, pois a altitude é maior.

O peso do bloco de gelo dará origem a um abai­xamento (afundamento) da terra que variará com o crescimento do bloco e com a estrutura das camadas subjacentes.

 

                                       65

 

Página em branco

                                             66

 

 

MOVIMENTO PERPÉTUO MOTO-CONTÍNUO

Cientificamente está provado que o movimento perpétuo ou moto-contínuo não existe.

Todas estas provas são um tanto ou quanto in­coerentes, pois não têm uma explicação lá muito ló­gica e são mais baseadas no facto de o nosso espírito não poder conceber uma coisa ou uma máquina que possa trabalhar por si só, sem auxílio de nada, sem um princípio de movimento auxiliado.

Eu não tenho dinheiro e não poderei talvez nunca realizar as experiências que desejava fazer. Mas tenho a impressão de que estudando bem o poder de atracção e repulsão entre dois imanes (e tão pouco se sabe sobre estes campos magnéticos) chegaria à fabricação duma máquina que traba­lhasse em movimento perpétuo ou moto-contínuo.

Seria construída da seguinte maneira:

         Três rodas concêntricas.

       A mais interior teria fixos vários imanes com um dos poios, por exemplo o polo norte, orientado (em todos os imanes) para o centro. Desta maneira o outro poio (polo sul) ficaria orientado para a peri­feria da roda.

A mais exterior seria uma coroa circular tam­bém com vários imanes orientados ao contrário dos da roda mais interior.

Desta forma ficaríamos com dois grupos de imanes que poderiam girar em torno um do outro. Como tinham poios do mesmo sinal repelir-se-iam

67

 

e entrariam em movimento se uma parte do campo de repulsão fosse desviada.

Ora até agora ainda não se descobriu um isola­dor de campos magnéticos e, só por isso, aqui está uma dificuldade enorme a vencer. Mas os campos magnéticos podem ser desviados. Assim a roda in­termédia seria um cilindro oco de ferro macio com ranhuras orientadas que só permitiria a repulsão dos poios dos imanes quando estes estivessem em posição conveniente. (Se houver, no Espaço, discos voadores, eles poderão ser mais ou menos fabrica­dos com estas características).

Já tentei realizar algumas experiências para verificar estas hipóteses.

Mas mesmo que gastasse o dinheiro todo de que disponho actualmente não conseguiria sequer um arremedo do que pretendia.

Algumas técnicas laboratoriais são-me tão ina­cessíveis como uma viagem à Lua.

Há alguns anos vi um documentário cinemato­gráfico onde testavam a equilibragem da hélice dum avião. A hélice pesava, salvo erro, centenas de quilos (para não dizer toneladas). Mas mesmo que fossem dezenas!

Um dos técnicos subiu a um escadote ou andai­me e colocou um papel de cigarro, vulgarmente cha­mado mortalha, sobre uma das pás da hélice parada. E, lentamente, a hélice começou a mover-se adqui­rindo velocidade até cair o papel,

Eu não precisava de uma roda de centenas de quilos, nem de dezenas, nem sequer de unidades. Mandei fazer, numa oficina de torneiro que me pare­ceu até ter máquinas capazes da execução, uma roda pequena para trabalhar entre pontos que fosse per­feitamente equilibrada. Paguei um dinheirão e fiquei horrorizado com o mamarracho que me entregaram.

                                                        68

 

       Nós sabemos fazer até muito bem cópias do que já existir, mas quando se trata de inovações... Enfim! Sabemos muito bem copiar tudo, tudo, mas daqui não passamos.

E gastam-se milhões tão inutilmente! Só eu não tenho alguns milhares para desperdiçar!!!

Vamos agora analisar vários assuntos.        

1) — Um átomo qualquer não é mais do que moto-contínuo. Um núcleo e electrões em movimen­to perpétuo.

Quando parará?

Talvez nunca, nunca mais.

Tenho a impressão de que sempre existiu e sem­pre existirá. Pelo menos acho lógico que nunca pare esse movimento.

Evidentemente a quantidade de movimento po­derá ser maior ou menor, isto é, esse movimento poderá ter uma maior ou menor aceleração, mas existirá sempre e deve ser um moto-contínuo.

Agora vejam a infinidade de átomos que existe no Universo e digam-me se todos esses átomos não têm um movimento perpétuo; se cada um deles não é um moto-contínuo!

2) — A Terra é um planeta que forma um todo decomponível em várias partes. Sabemos que exis­tem ciclos: o ciclo da água, o ciclo do azoto, o ciclo do oxigénio, o ciclo do carbono, etc., etc.

Todos estes ciclos e todos os mais que possam existir são movimentos perpétuos e existirão pelo menos enquanto existirem essas condições. Mas mesmo que as condições mudassem continuariam a existir. Talvez mudassem de aspecto, mas enquanto houver matéria (e esta existirá sempre) haverá um movimento perpétuo e vários ciclos que não são

69

 

mais do que a continuação do movimento perpétuo dos átomos.

E mesmo que a matéria deixasse de existir po­deríamos pelo menos pensar assim em relação ao enquanto a matéria existir.

Porque será que o Homem não vê ou não quer ver aquilo que tem à frente dos olhos?

                                  70

APOLOGIA DOS BURROS

Com que direito um indivíduo inteligente critica outro por ser estúpido?         

Uma criatura estúpida terá alguma culpa da sua estupidez?

Geralmente todos dizem que há um grande abis­mo entre um génio e um idiota. Haverá?

Que culpa tem o génio de ter nascido génio e o idiota de ter nascido idiota?

Ou será que o idiota tem possibilidades de se transformar em génio e pura e simplesmente não o deseja? Mas também se o desejasse talvez mais valesse continuar a ser idiota do que ser um génio como alguns que por aí há que não passam de idio­tas por terem tantas pretensões à genialidade.

Menospreza-se um ser humano só porque a mãe-zinha e o paizinho não tiveram a feliz ideia de lhe ceder uns genes hereditários (que se calhar também já não possuíam ou estavam muito atrofiados) com uma boa dose de inteligência.

Felizmente a Humanidade arranjou talvez sem querer uma forma de defender alguns destes desgra­çados: o Capitalismo.

Como todas as coisas ou quase todas arranjadas pela Humanidade esta também enferma de muitos defeitos.

Assim vêem-se muitos desperdiçar o dinheiro duma forma estúpida ou guardá-lo a sete chaves (o que ainda é pior) e muitos outros a precisarem de

71

 

o desperdiçar em coisas úteis para a Humanidade e sem o terem sequer para as suas necessidades.

E os que não têm dinheiro nem inteligência transformam-se muitas vezes na escória da Humani­dade (e só por culpa dela).

E chamamos os outros animais de animais infe­riores. Inferiores eles que têm sempre lugar para um da mesma espécie, que lutam pela vida nas mais duras circunstâncias, mas nunca ou quase nunca matam um da mesma espécie.

Parece-me que com toda a sua inferioridade são mais inteligentes que nós e deviam ter um lugar de destaque na nossa Sociedade. Pelo menos para nos servirem de exemplo. Aprenderíamos a não des­prezar os nossos semelhantes só porque a cor da pele não é a mesma ou o quociente de inteligência não está acima daquele mínimo indispensável para sair do grupo dos cretinos.

Podem dizer que estou a exagerar, que não desprezamos os estúpidos assim como não despreza­mos os pobres.

Pois sim! Mas não os tratamos como iguais. Da­mos-lhe uma esmola.

Sempre agradeci todas as ajudas que me deram, mas já recusei ajudas só porque não eram ajudas, eram esmolas. E eu não gosto de esmolas. Têm sem­pre uma intenção de humilhar, de rebaixar.

E ao elevarmos a um pedestal muito alto, ao endeusarmos a genialidade dos homens, estamos a ofender os menos dotados que não tiveram culpa nenhuma de lá não poderem chegar.

Tanto valor tem um varredor da rua como um professor catedrático. Tanto valor tem um moço de fretes como um chefe de estado. Isto é o que dize­mos. Mas como procedemos na prática? Sim, mesmo nos países que se dizem mais civilizados?

                                                         72

 

Criamos tacitamente uma escala de valores para remunerar e diferenciar. Mas esses valores não são só em dinheiro. São em tudo. Em honras, em con­siderações, etc., etc., etc.

É condenável um estúpido pôr limitações a um indivíduo mais inteligente só pela simples razão de não se deixar ultrapassar.

E é condenável um inteligente, só porque algu­mas vezes botou cá para fora umas ideias acertadas, refugiar-se num pedestal (o pedestal dos génios) e não reconhecer as suas asneiras e, o que ainda é pior, pensar que os outros todos são uma cambada de burros e situá-los num nível muito rasteiro.

Aliás é errado situar uma pessoa permanente­mente num determinado nível, pois um estúpido pode fazer muitas coisas acertadas e ter intuições geniais, e um génio pode fazer muitas asneiras e ter íntuições estúpidas.

É além disso o pensamento tem flutuações constantes entre a inteligência e a imbecilidade.

Devemos considerar um inapto como um doen­te que tem possibilidades de se curar.

Assim como um génio se pode transformar num imbecil através da loucura, também um inapto se pode transformar num génio se for auxiliado e tiver tempo para curar a sua inaptidão.

Um macaco já pode falar com o homem através dum computador. Ó computador veio ajudar o ma­caco na sua inaptidão. Veio dar-lhe algo que lhe fal­tava.

Algum treino adequado pode desenvolver uma inteligência embotada.     

Mesmo nas pessoas mais estúpidas e cretinas vêem-se por vezes rasgos de genialidade. Se bem que fugazes e instantâneos e só perceptíveis por outras pessoas mais dotadas, poderiam com a ajuda destou-

73

 

tras pessoas virem a ser percebidos por esse espí­rito embotado.

Seria como que um rastilho para atear uma explosão de luz. E esse espírito teria possibilidade de desenvolver e remexer escaninhos secretos da sua mente que nunca pensara que existissem sequer.

Que faz a Humanidade?                                                      

A pouco e pouco convence um burro de que ain­da é mais burro do que aquilo que pensava.

É como aquela enfermeira empedernida à custa de muitos anos de hábito que pouco a pouco passa a tratar os seus doentes com muito menos carinho.

Um estúpido é um doente do espírito que, mais que os doentes do corpo, precisa de carinho, com­preensão e ajuda.     

Evidentemente o melhor passo para uma cura será a colaboração do doente. Assim o doente terá de compreender que o querem ajudar e não humi­lhar ou rebaixar.

Em tempos escrevi:

«Se chamares a um homem burro, ele ficará menos burro.»

.   Parece um contra-senso.  Que queria eu dizer?

Primeiro é preciso termos alguma coragem para chamarmos burro a um indivíduo, principalmente se esse indivíduo se situar alguns degraus acima na nossa escala hierárquica e/ou potencial.

Depois duas coisas podem acontecer:    

Ou esse indivíduo mais tarde ou mais cedo se convence da sua asneira e, dando ou não o braço a torcer, tem possibilidades de se corrigir e, pelo me­nos, não voltar a cair noutra idêntica, ou não se convence e nos mostra como teremos de tratar com ele.

Nesta última hipótese, e ainda que nós não te-

                                                                      74

 

nhamos razão, ele ficará a pensar no assunto mesmo que não queira e, portanto, com possibilidades de o analisar profundamente adquirindo assim mais co­nhecimentos.

Quantas vezes depois disso e quando os ânimos estão menos exaltados, ele vem ter connosco e nos diz: «Olhe lá! Sobre aquele assunto do outro dia Você não tinha razão por mais isto e mais aquilo.»

Ë uma maneira muito correcta de nos retribuir o cumprimento!

Será a nossa vez de ficarmos a magicar no assunto.

Só numa Sociedade de quimera é que poderia haver solução para este estado de coisas.

Uma Sociedade formada por seres polivalentes. Seres que dividissem as suas ocupações em dois grandes grupos.

Um grupo de ocupações privilegiadas como: professores, chefes, estudantes, ou antes, estudiosos, médicos, cientistas, etc.

Outro grupo de ocupações de utilidade pública como: pedreiros, carpinteiros, varredores, trabalha­dores rurais, ajudantes, e todas as ocupações consi­deradas duras e árduas indispensáveis à Sociedade.

Qualquer criatura teria obrigatoriamente de di­vidir o seu tempo de trabalho em duas partes iguais.

Uma parte obrigatória para distribuir pelas ocupações de utilidade pública numa rotação que passaria por várias ocupações segundo a sua robus­tez, saúde e outras características.

A outra parte para se dedicar a uma só das ocupações privilegiadas consoante o seu gosto e on­de poderia desenvolver a sua capacidade como ser racional e inteligente.

Se quisesse ocupar esta segunda parte com ocupações de utilidade pública deveria ser analisa-

75

 

da a sua sanidade mental e, enfim, quem corre por gosto  não cansa...             

Estes dois grupos de ocupações poderiam ter permuta de ocupações conforme a exigência das circunstâncias e, em caso de força maior, poderia ser obrigatório o tempo total nas ocupações de utilidade pública.         

Mas isto infelizmente é pura utopia e terão de continuar os génios a levarem os benefícios maiores e os burros a contentarem-se com o que puderem abocanhar.

A não ser que surja qualquer dia, por artes má­gicas, o Império dos Burros (que não tenham pre­tensões a génios).

E parece-me que já não vem longe esse dia, pois já há alguns reinozitos de burros, mas ainda com muitas pretensões a génios.

Sentir-me-ei lisonjeado se alguém julgar (cui­dado!!! que pode morrer!! pois a julgar morreu um burro!) que não escrevi como um génio nem como um burro.

                                                                  76

 

Pensamento

Todos os formados em Portugal distribuem-se em dois grandes grupos: uns são uns Pobres Génios; outros, uns Ricos Burros.

PENSAMENTOS

O Homem é tão inteligente ou tão burro que arranja complicações desnecessárias para não ver o que tem à frente dos olhos.

Regra geral um Homem não admite ideias no­vas a não ser que já façam parte do seu pensar.

O maior bem que podemos dar aos nossos filhos é a nossa própria evolução e desenvolvimento.

Às vezes sinto um desejo de destruir, de elimi­nar gente, gente abjecta, gente que não devia ser gente, gente que qualquer epíteto por mais infame não daria uma pálida ideia para a qualificar .

Mas então olho bem para mim e vejo que quem devia destruir em primeiro lugar seria a mim pró­prio. E sinto asco e tenho nojo de pertencer à Raça Humana.

                                      

                                      77

 

Página em branco

                                                   78

 

O que a seguir transcrevo foi escrito num mo­mento de desvario em que estive muito perto da Loucura, em 1971.

Hoje, talvez com mais lucidez, quase posso ga­rantir que esse escrito não está muito longe da rea­lidade.

No entanto ser-me-á muito difícil fazer com que me percebam completamente.

Seria necessário abrir-lhes o toutelo de alto a baixo e meter-lhes a minha cabeça lá dentro.

Antes de 25 de Abril de 1974 poderia, com pro­priedade, dizer que se Cristo voltasse à Terra nós todos voltaríamos a crucificá-lo.

Agora tenho algumas esperanças de que, se Ele de facto regressasse, talvez isso não acontecesse.

Todavia os Homens não fariam o que Ele disse: Larguem tudo e sigam-me.

Os Homens estão muito agarrados à vil matéria para seguirem ideias ou ideais.

E agarrados a tanta matéria viveram e prova­velmente viverão séculos e séculos e séculos comple­tamente errados, a preocuparem-se exactamente com aquilo a que não deveriam sequer ligar impor­tância.

 

                                 79

 

Página em branco

                                          80

 

A VERDADE

Desde que nasci busco a Verdade.

Hoje sei a Verdade.

Jesus Cristo sabia a Verdade e muitas coisas mais.

Deu a Vida na ânsia de transmitir aos Homens essa Verdade e não O souberam ouvir.

Eu farei como Ele, se for preciso.

Leiam estes meus apontamentos com atenção.

Talvez há mais de dez anos que trabalho neles.

São puramente científicos.

Quem os compreender estará preparado para aprender a Verdade.

Ajudem-me a procurar a Pureza na Verdade.

Tenham cuidado com os vossos Cérebros.

Eu já endoideci uma vez e estive a dois passos doutra.

Ajudem-me e ajudem-se uns aos outros.

Ë Maravilhoso!

Ainda que a Verdade fosse uma Mentira valia a pena ter vivido para tê-la descoberto.

Sentimos uma alegria de viver e uma Paz inte­rior como se tivéssemos encontrado Deus no nosso caminho (isto para aqueles que acreditam num Deus).

Mesmo os que duvidarem da existência de Deus (o que é um ponto de vista muito aceitável) sentirão essa Paz.

A minha única excitação é não poder gritar bem

81

 

alto: Venham ouvir-me! Ajudem-me a fazer com que todos nós compreendamos bem a Verdade.

Mas não posso sequer fazer isso, pois diriam todos que enlouqueci.

Se isto é uma loucura, então deixem-me viver louco e feliz, pois bem-aventurados serão estes lou­cos que deles será o reino dos Céus.

 

                                     82

 

AMIGOS   DA   VERDADE

VAMOS   CRIAR   UMA   NOVA   RELIGIÃO?

A PROCURA DE DEUS. EM BUSCA DA VERDADE

Definamos uma Nova Religião que tem como Doutrina a procura de DEUS. Verifiquemos que só assim O poderemos encontrar. Esta Nova Religião tem como Base o seguinte Dogma: EXISTE OU NÃO EXISTE DEUS?

Se EXISTE vamos então analisar qual será o nosso melhor procedimento para O encontrarmos. Para tal analisemos, com todo o devido Respeito, as Religiões existentes e tiremos delas tudo o que de bom possam ter. Separemos o trigo do joio. Não será verdade que, se Ele existe, só com um bom procedimento O poderemos encontrar? Portanto, procedamos bem. Não teremos nada a perder e ganharemos sempre, pelo menos, em atenção ao que devemos a um Princípio Básico do Universo: O Amor e Respeito pela Vida.

Se NÃO EXISTE não perdemos nada em pro­ceder desta forma. E pelo menos respeitaremos esse Princípio Básico do Universo, ainda que não seja só senão pelo motivo de que toda a Vida existente no Universo o respeita. Expliquemos tudo o que pu­dermos explicar da forma mais lógica possível. O que não pudermos explicar lógica e cientificamente púnhamo-lo sempre em dúvida e teçamos uma rede de hipóteses à sua volta. Desta maneira ir-nos-emos aproximando sempre cada vez mais da VERDADE.

Setembro de 1971

83

 

Página em branco

                                                   84

 

Pensamentos:

Gosto que conversem comigo mesmo ainda que seja só com o prazer de se rirem das minhas ideias.

É possível que arranje, se já não os tenho, mui­tos inimigos. Se algum deles me quiser muito mal, deverá dizer-mo com espírito lúcido. Eu tentarei compreendê-lo.

A Inteligência do Homem está a transformar o Mundo num Mundo de fingimento.

Na Simplicidade está a Verdade.

Setembro de 1971

                                            85

 

Página em branco

                                          86

 

Escrito depois de 25 de Abril de Í974

                                           87

 

Página em branco

                                            88

 

Se Deus existe, há Leis superiores ao próprio Deus.

Essas Leis terão de ser sempre cumpridas para que Deus não seja destruído.

São as Leis da Natureza (ou do Universo).

Uma delas, que eu ainda não conheço bem, é a Lei do Sangue. Muitas Religiões falam nesta Lei.

Outra Lei, que eu também não conheço, é a Lei da Vida.

Quais serão as condições em que moral e conscienciosamente podemos destruir um Ser? Quais as Vidas que (não falando já da Vida Humana, pois a preservação desta Vida está incondicionalmente fora de discussão) deverão, digamos assim, ser con­sideradas sagradas? Há Religiões que falam de Ani­mais em que não devemos tocar. Será só para bene­fício do Homem ou haverá mais qualquer coisa além disso? (Por exemplo: Princípio de Ser Racional). Não estaremos nós sem o sabermos a ser canibais? Não estaremos a trucidar Animais que já são ou se­rão um dia iguais a nós?

Como eu gostaria que percebessem as minhas ideias e não as minhas palavras. Mas se perceberem as minhas palavras já será um grande passo para perceberem as minhas ideias. Sinto-me verdadeira­mente infeliz por ser o único entre os meus contem­porâneos a saber uma das Verdades, Verdade esta que poderemos com propriedade apelidar de Ver­dade Cósmica.

Eu explico.

Há milhões ou mesmo milhões de milhões de seres extraterrestres que nos vigiam e esperam uni-

                                       89

 

camente que a Humanidade se aperceba da sua Loucura para então, com o Espírito são e lúcido, po­der compreender tudo o que têm para nos ensinar.

Aprenderemos mais num ano do que aprende­mos durante os milhões de anos em que o Homem é Homem.

Quando a Humanidade estiver completamente identificada com as Ideias dos Grandes Pensadores da Humanidade, tais como, por exemplo, Jesus Cris­to, Maomé, Confúcio, etc., e houver Paz na Terra, então esses Seres que são nossos irmãos descerão na Terra e ajudar-nos-ão incondicionalmente. En­tão apreenderemos Maravilhas de que nem sequer suspeitávamos.

Tenho pena de não assistir a isto na minha curta estadia nesta vida terrena, mas o Homem ain­da está muito atrasado para que isso fosse possível.

Talvez os meus filhos vejam esse verdadeiro milagre e possam assim compreender a Ideia Mara­vilhosa de Deus.

3 de Junho de 1974

                                     90

 

Um amigo meu criticou-me a palavra dogma na minha expressão: «seguinte Dogma: Existe ou não existe Deus?».

Se não estiverem de acordo podem substituir essa palavra por «Princípio», mas o que eu queria dizer era exactamente Dogma.

Ora atendam à minha explicação.

O que verdadeiramente pretendo é criar uma nova Religião (perdoem-me a ousadia).

Será uma Religião diferente das que existem actualmente.

Quereria que fosse a Religião das Religiões.

Será assente num Princípio ou Dogma (como queiram): a Dúvida da existência de Deus.

Desta maneira poderão pôr de parte formas erradas da percepção de Deus que muito contribuem para que não compreendam verdadeiramente a no­ção da palavra Deus.

Por assim dizer, ponham-se de fora e estudem certos Princípios sem ideias preconcebidas.

E terão muito que estudar pois todas as Reli­giões podem ter as suas Verdades desde que saibam aperceber-se delas, desde que não as papagueiem de cor. Mas também podem ter muitos defeitos, pois foram copiadas e recopiadas por Homens que, com certeza, introduziram ou interpretaram mal alguns pontos.

Uma coisa deveria ser feita e eu gostaria de fazer se não estivesse fora das minhas possibilidades e até talvez fora das possibilidades duma pessoa só. É a Síntese das Religiões.

10 de Junho de 1971

91

 

Página  em branco

                                                                      92

 

Vamos agora debruçar-nos sobre um problema: A Vida.

Ninguém terá com certeza, dúvidas de que a Vida existe no Universo (ainda que não seja senão na Terra, o que é muito pouco provável).

Ora a Vida (tomemos para estudo a do Homem) é qualquer coisa que transcende a própria matéria, mas que está assente, com certeza, na matéria.

E duas hipóteses se podem pôr:       

1) — A Vida aparece e desaparece, não ficando nada depois da Morte.

2) — A Vida aparece e desaparece, mas fica algo depois da Morte.

Vejamos a primeira hipótese (a mais pessi­mista).

A Vida aparece em determinado momento por certas circunstâncias que lhe deram origem e desa­parece com a Morte após um período de tempo com alguma duração.

Os estados mais ou menos avançados da Vida são função da Espécie e têm o seu apogeu no Ho­mem como Ser Racional.

A Vida tem como base o corpo. A inteligência, memória, raciocínio, enfim, tudo, tem como base esse corpo e desaparece com ele.

No entanto, dentro de cada Espécie, dá-se uma evolução com tendência a melhorar sempre às con­dições de Vida Racional e Irracional e, pelo menos, ficarão de indivíduo para indivíduo os genes heredi­tários com a informação dos estados anteriores e as melhorias progressivas.

93

Que deve fazer o Homem, neste caso, como Ser Racional?

Deve, com certeza, proteger com todos os meios ao seu alcance a sua Vida, a dos seus semelhantes (principalmente a dos seus semelhantes, pois desta forma estará a proteger a sua e dos seus filhos) e toda a Vida existente na Natureza, a fim de que per­dure dele algo mais que as simples recordações transmitidas de gerações em gerações.

Vejamos a segunda hipótese (fantástica e mara­vilhosa).            

Há duas Vidas em simbiose: a Vida Biológica e a Vida Racional.

De qualquer forma devem estar ambas assentes na matéria.

A Vida Biológica todos nós sabemos que está.

A Vida Racional deve ser talvez de natureza ondulatória ou de qualquer outra natureza, mas mais ou menos indestrutível.

Nesta Vida devem estar contidas todas as fun­ções lógicas como, por exemplo, a memória, a inte­ligência, o raciocínio, etc.

Nesta hipótese outras hipóteses se podem dar.

Assim:

a) — Estas duas Vidas podem aparecer simul­taneamente com o nascimento de cada indivíduo.

Quando o indivíduo morre a Vida Biológica de­saparece, mas a Vida Racional liberta-se e fica no Espaço.

Se assim for, esta Vida fica, por assim dizer, cega, pois faltar-lhe-ão elementos de ligação com a outra matéria, com excepção das ondas racionais (chamemos-lhe assim).

b) — Estas duas Vidas são independentes. Neste caso a Vida Racional aproveita a Vida

                                                                 94

 

Biológica como meio de percepção do Universo, for­mando uma simbiose.

Quando o indivíduo simbiota biológico morre o indivíduo simbiota racional transita provavelmen­te para outro indivíduo biológico que nasce, for­mando nova simbiose. Explica-se assim o conheci­mento fantástico que um Ser tem de outro Ser com-pletamente diferente na Espécie, conhecimento este tão perfeito que parece até ter esse Ser já vivido den­tro do outro.

Também pode acontecer que o indivíduo sim­biota racional fique no Espaço até conseguir captar, digamos assim, outro indivíduo simbiota biológico.

Se se der esta hipótese, nós já existimos talvez há milhões de anos, mas num estado irracional de que não nos apercebíamos. (Também actualmente pouco mais somos que Seres Irracionais, infelizmen­te para o Animal em que vivemos!).

Neste caso, que deveria fazer o Homem como Ser Racional?

Deveria preservar a sua Vida e a dos seus seme­lhantes mais que religiosamente e tentar proteger a Vida no Universo.

E que fazemos nós ?,..

10 de Junho de 1974

95

Página em branco

                                                   96

 

Se a hipótese 2-b) fosse verdadeira e eu soubesse que teria de viver eternamente no meio de Seres tão doidos como estes no meio dos quais actualmente vivo (situação esta que tem de ser, felizmente, im­possível) então mesmo que Deus existisse, mandaria Deus à fava, e tentaria por todos os meios destruir o meu Ser, ainda que esta destruição fosse impos­sível.

Felizmente já cheguei a meio da minha prová­vel vida humana e ainda que chegue aos cem anos conto já estar suficientemente vacinado para aguen­tar este resto de vida humana.

Se a destruição dum Ser for possível, seria uma pena que estivesse ao alcance da inconsciência dum doido.

Cada um de nós é tão livre, tão livre que até tem o poder de se destruir a si próprio. Mas, ainda que não o deva fazer, essa destruição deve estar con­dicionada exclusivamente à sua vontade, ao seu que­rer.

O crime mais monstruoso que qualquer um de nós pode cometer é a destruição consciente de um semelhante.

E mais horrível ainda será esse crime se quem o cometer estiver completamente integrado nestas Ideias e compreender bem estes Ideais.

Um Ser Racional deve lutar para que as suas ideias sejam analisadas e integradas na Sociedade em que vive.

Mas, na hipótese de ter de destruir um Seme­lhante, mesmo condicionado por factores que façam perigar a sua integridade física, deve incondicional-

97

 

mente sacrificar-se e não perpetrar esse crime he­diondo.

Assim não terá remorsos quando compreender bem os Segredos da Vida.

10 de Junho de 1974     

98

 

Talvez não acreditem e achem exagero, mas digo que talvez seja eu um dos Portugueses que mais sofreu e ainda sofre, embora, talvez por milagre, nunca tenha estado preso, se bem que sempre fa­lasse e me revoltasse contra a injustiça.

As torturas do corpo não são nada compara­das às morais.

E uma das maiores torturas para mim é não me quererem ouvir e dizerem que estou doido.

Se eu fosse sozinho e não tivesse problemas de família ou se a minha família fosse rica e não depen­desse de mim, largaria tudo e lançar-me-ia neste Mundo a apregoar as minhas ideias ainda que isso pudesse prejudicar a minha integridade física.

Mas como tenho família exclusivamente depen­dente de mim, tenho de dominar a minha impaciên­cia e não fazer nada que me possa trazer remorsos futuros quanto à minha maneira de proceder.

Já bastam os remorsos que tenho de alguns pro­cedimentos na minha fase anterior de loucura e in­compreensão da Vida e os que terei, se não proceder acertadamente na fase futura da minha vida, devido a condições ainda incontroláveis do meu Ser Irra­cional.

Não imaginam sequer o meu martírio em ter de me prender com assuntos e problemas do meu dia a dia de trabalho e lazer que, com a minha actual forma de pensar, são de todo obsoletos para mim, ainda que, numa outra situação, sejam muito inte­ressantes.

Resistirei eu?

Faço todos os impossíveis para resistir.

99

 

É muito triste estar só no meio de tanta gente.

Jesus Cristo ainda possuía o dom de falar aos ventos e mar e eles entenderem-No.

Eu nem isso posso fazer porque não tenho esse dom.

Mas talvez, se for parar a algum manicómio, haja lá alguém que me entenda.

Talvez um dia me compreendam, se entretanto não estoirarem com tudo, pois não sei se uma ex­plosão atómica destruirá ou não a Vida Racional maravilhosa que pode existir tal qual descrevi na hipótese 2-b).

Sem presunção, tenho três coisas a fazer.    

1) — Convencer-me de que não estou doido.

2) — Convencer  os  outros  de  que  não  estou

doido.                           

3) — Convencer os outros de que estão doidos. (Loucura colectiva).

Com isto tudo talvez não consiga fazer senão com que alguns doidos digam que sou um génio e alguns génios digam que sou um doido.

 

                                   10 de Junho de 1974

                    100

 

 a   ideia   de  deus

Só um louco poderia permitir-se o arrojo de querer explicar a Ideia de Deus científica e, digamos assim, irrefutavelmente.

Mas, como a um doido tudo ou quase tudo é permitido, vou tentar expor Ideia tão sublime e me­recedora de melhor sorte de exposição.

Vou partir de hipóteses atrás mencionadas con­siderando-as, no todo ou em parte, como verdades

Uma delas é a minha preferida, a 2-b).

Outra é a de que no Espaço infinito, antes de mais nada, existia matéria.

Posto isto, vejamos.

- .  Deus    pode   simultaneamente   existir   e   não existir.

No Princípio só havia matéria no Espaço.   Podemos partir também de que não havia Nada mas, deste modo, torna-se-nos tudo mais irreal.

Ora, em determinado momento, apareceu espon­taneamente a Vida.

                                                                            

A Vida aparece duma forma maravilhosa e, uni­das ou separadas, tem duas formas.

Uma é a forma palpável e real tal qual a conhe­cemos, outra, a forma impalpável e lógica que não conhecemos, mas da qual temos uma vaga percepção a que chamamos Espírito, Alma, etc.

De qualquer maneira  estas  duas  formas  têm

101

 

de estar assentes na matéria ou, pelo menos, ter a matéria como meio de realização.

Qual destas formas apareceu primeiro?

Podemos optar por uma ou por outra, mas te­mos de concordar que a forma lógica é indestrutível, mais ou menos mediante certas condições do meio que lhe serve de apoio, e cresce continuamente. Se assim não fosse nunca passaria de uma forma pri­mitiva.

É também natural que estas duas formas de Vida vivam em perfeita simbiose, auxiliando-se mu­tuamente e formando um Ser.

A Vida Real tem um período mais ou menos curto de existência. ...     Nasce, cresce e morre.

    Para não desaparecer tem de transmitir a sua vida a outro Ser com uma informação mais ou me­nos completa para evolução da Espécie e provável mutação num Ser ideal e perfeito.

A Vida Lógica aproveita a maior ou menor apti­dão da Vida Real para crescer continuamente, aju­dar esta 3 transmitir informações entre Seres para uma cada vez maior expansão e perfeição da Vida Real de que necessita para poder ter lucidez.

A Vida Real dum Ser está, digamos assim, como que exclusivamente assente na matéria em activi­dade.

Consoante a actividade dum Ser, esta Vida Real cansa-se mais ou menos facilmente. Então a Vida Lógica pára ou reduz a sua actividade para o Ser poder descansar e consertar a sua Vida Real.

Quando a Vida Real não tem conserto possível. desaparece e deixa a Vida Lógica em liberdade, num estado consciente, inconsciente ou semiconsciente (não sei), até encontrar outra Vida Real para for­marem um novo Ser.

                                               102

 

Portanto a Vida Lógica vai sempre elucidando a Vida Real com todos os conhecimentos e experiên­cias adquiridos, para uma melhor protecção e defesa do Ser e da sua Espécie.

Ora continuemos.

No Princípio apareceu a Vida.

Ë provável ou até mesmo necessário que esta Vida tenha aparecido simultaneamente em vários Se­res, pois um Ser único no Universo não tinha quais­quer possibilidades de subsistir.

Para simplificarmos, suponhamos que na Ori­gem foi um só Ser (volto a frisar que é praticamente impossível) ou, o que é mais real, que houve um primitivo Ser, portanto o Primeiro Ser, que tomou consciência de Ser Racional.

Ora este Primeiro Ser Raciona!, logo que tomou consciência da sua Racionalidade, talvez só após mi­lhões ou biliões já de anos de vida, que fez?

Primeiro certificou-se de que existia e existiria sempre como Ser Racional independentemente das formas que pudesse ter na sua passagem por várias Vidas Reais, pois também teve medo da Morte.

Depois, aperfeiçoando-se e adquirindo cada vez mais conhecimentos, analisou se haveria outros Se­res iguais a Ele ou com possibilidades de o virem a ser, pois teria chegado à conclusão de que seria muito triste estar sozinho como único Ser Racional
no Universo.                            

Em seguida fez tudo para proteger e fomentar a existência da Vida e de todos os Seres no Univer­so, pois só assim poderia Viver eternamente.

Tentou a comunicação com todos os Seres para lhes ensinar estas Maravilhas. Fez-se Verbo.

Quando os Seres começam a tornar-se Semi-Ra-cionais faz com que apressem a sua Racionalidade

103

 

para lhes evitar os sofrimentos por que Ele passou quando era o Único Ser Racional, nem que para isso tenha de fazer passar tormentos aos Seus Filhos mais queridos ou a Ele Próprio, pois são outros Fi­lhos dos Filhos Dele que estão a precisar de ajuda. E assim surge a Ideia de Deus.

Se considerarmos Deus como este Primeiro Ser Racional ou, melhor, como a Ideia Universal deste Ser (e de todos os Seres Racionais) para atingir o Fim de perpetuar a Sua Eternidade, então Deus existe.

Portanto Deus será o Consenso (ou antes Bom Senso) Universal de todos os Seres (principalmente os Seres Racionais) empenhados em perpetuarem a sua existência espiritual eterna e infinita.

Se considerarmos Deus como um Ser Único maior que todos os outros, então Deus não existe, pois todos nós somos Seres iguais a Ele e feitos à Sua Imagem e Semelhança e qualquer um de nós po­deria ser Ele, se Ele não existisse.

Então seremos todos nós, em potência, Deuses iguais a Ele.

Evidentemente não nos podemos esquecer que Ele é o nosso Pai, pelo menos na protecção que nos dá.

Também não nos podemos esquecer que, quan­do nós soubermos o que Ele sabe agora, já terão passado tantos biliões de séculos, durante es quais Ele aperfeiçoou e melhorou os Seus Conhecimentos, redundando ser sempre Ele o mais perfeito de todos nós.

Ele, ainda que algum de nós tenha o pesar egoísta, ridículo e idiota de não ser o Primeiro, será sempre o Princípio e o Primeiro dos Primeiros.

É claro que com a ajuda Dele poderemos apren-

                                             104

 

der muito mais rapidamente do que se aprendêsse­mos sozinhos.

Por exemple, no que diz respeito à minha actual Vida Racional, já quase tenho a certeza de muitas coisas que, ainda não sabendo como, me vão acon­tecer.

Não tenho suficiente Fé e sou pior do que São Tomé pois, mesmo vendo, não acredito. Os meus sentidos podem enganar-me e não me mostrarem mais do que uma miragem.

No entanto possuo um Espírito Lógico que che­ga a certas conclusões e estas só precisarão da expe­rimentação para passarem a certezas.

Se acontecerem as situações previstas, as con­clusões estão certas.

Espero a Morte com impaciência e ansiedade porque, para mim, a Morte será o esclarecimento de muitas dúvidas que ainda tenho.

No entanto preservo a Vida e desejo viver o maior tempo possível para aventar hipóteses e tirar conclusões antes de me acontecerem as situações que me trarão outras dúvidas a esclarecer.

Nós viveremos sempre no meio de dúvidas, mas é assim que a Vida se torna maravilhosa, pois ha­verá sempre a ânsia de descobrir e tentar sempre alcançar certezas. E depois, por qualquer motivo, voltaremos a duvidar destas certezas numa ânsia em atingirmos a Perfeição.

Mesmo aqueles que ouviram do Próprio Deus, as Verdades, duvidaram, com toda a certeza, lá bem no fundo do seu íntimo, dessas Verdades, pois se assim não acontecesse não seriam Seres Racionais.

Uma coisa é sabermos que isto e aquilo é assim.

Outra coisa é percebermos porque é que isto e aquilo é assim.

                                           105

 

 

Ao saber tem de se juntar sempre uma boa

análise, percepção e compreensão.

                       27 de Junho de 1974

 

           106

 

 

A Vida está em toda a parte.

Deus é a Vida.

Deus está em toda a parte.

Eu sou Vida.

Eu sou Deus.

Nós somos feitos à imagem e semelhança de Deus.

Somos Filhos de Deus.

E filho de Peixe sabe nadar.

29 de Junho de 1974

                                      107

 

Página em branco

                                      108

 

VIDA NO  UNIVERSO

A vida é uma maravilha feita de movimento, um movimento perpétuo.          

O Universo é um todo vivo.

Tudo o que existe no Universo tem uma vida própria, uma vida inerente a cada coisa de per si, vida esta que se junta a outras vidas para formarem uma outra vida talvez com características diferen­tes, mas, no fundo, com as mesmas bases.

Assim, a própria matéria tem uma vida que, se atendermos aos vários elementos da matéria, pode­mos dizer que nasce, vive e morre. Desta maneira uma molécula de água, por exemplo, tem a sua vida. Nasce, vive e morre. E constantemente nascem moléculas de água, vivem e morrem, e das suas cin­zas voltam a nascer, a viver e a morrer, num movi­mento perpétuo.

O mesmo poderemos dizer dum átomo de hidro­génio e assim por diante, de tudo.

Estes estados de vida irracional agrupam-se para formarem novos estados de vida cada vez mais complexos até formarem seres com necessidade de qualquer coisa que ultrapassa o irracional.

Surge então uma outra forma de vida, a alma vivente.               

Então dá-se uma simbiose.

     Seres que nascem, vivem e morrem apoiados na matéria (que sempre teve vida num movimento per­pétuo) e numa outra coisa que, com base ou não na matéria, transcende esta própria matéria, nasce,

109

 

vive, possivelmente cresce continuamente e nunca mais morre e que é a alma vivente ou espírito indes­trutível.

Esta alma vivente passa, a partir do seu nasci­mento, por estados cada vez mais complexos até atingir uma consciência própria, um conhecimento do seu ego cada vez mais perfeito numa evolução constante para a Perfeição.

Passa por um estado de vida semi-racional (que é o nosso estado de vida actual) em que sofre por não se aperceber do grandioso e fantástico da sua Razão, com medo de perder esta maravilha, que nem sequer concebe que é eterna, e com medo da Morte por estar convencido que a sua vida é só a vida da matéria que o rodeia, através da qual toma conheci­mento com o Universo de que faz parte, e que tudo acaba com o fim desta.

Este estado de vida, como todos os estados de vida, sofre uma evolução até atingir uma fase em que se apercebe de que a vida já não é irracional e unicamente assente na matéria, mas sim espiritual tendente assim para uma Vida Racional e eterna.

Este estado de vida evolui também, passando a sofrer cada vez menos com a percepção cada vez mais nítida de que o que mais lhe interessa é o Espírito e não a matéria, pois é aí que ficam regista­das todas as impressões de dor e prazer vividas, tendendo para a Perfeição Suprema.

Este Espírito cresce e evolui para Deus.

Estes estados de vida são múltiplos em quanti­dade e qualidade numa experiência constante ao acaso para um conhecimento completo e perfeito do Bom e do Mau.

Sofrem constantes mutações consoante as ne­cessidades que surgem.

                                                   110

 

Portanto o Universo é cheio de vida numa mu­tação constante e infinita.

Assim, os astros também têm uma vida que nasce, vive e morre e das suas cinzas nascerão outros astros que viverão e morrerão.

Reúnem-se em galáxias que nascem, vivem e morrem.

Querem os Homens explicar as origens dos as­tros e das galáxias aventando várias hipóteses numa tentativa vã de quererem explicar tudo por uma hipótese única, esquecendo-se de que para essas ori­gens também há milhares ou talvez milhões de for­mas diferentes de vida tal qual como há para a multiplicidade dos seres biológicos que existem na Terra.

Querem também explicar a origem do Universo como se o Universo fosse uma Galáxia.

Como se o Universo tivesse tido alguma ori­gem. O Universo nunca teve Princípio nem nunca terá Fim.

Ë uma noção quase impossível de compreender. Tão difícil de compreender como o Espaço infinito.

29 de Setembro de 1974

111

 

Página em branco

                                        112

UMA    HIPÓTESE    POSSÍVEL

NA    VIDA    DAS    GALÁXIAS

 

Primeiro era uma mancha enorme feita de ga­ses com uma temperatura muito vizinha do zero absoluto.

Uma mancha enorme com dimensões de muitos milhares ou centenas de milhar ou mesmo milhões de anos-luz.         

Chamemos-lhe Nebulosa.                          

Os gases eram gases simples formados pela as­sociação de elementos simples e muito elementares como, por exemplo, o hidrogénio ou mesmo ainda mais simples como, por exemplo, os protões, neutrões, etc.

Em determinado momento surge a faísca que faz explodir esta Nebulosa numa eclosão fantástica dando origem a muitos biliões de Estrelas.

Estrelas e só estrelas, pois nunca poderia ori­ginar planetas visto que estes seriam derretidos no braseiro fantástico dessa explosão.

Evidentemente seriam estrelas de vários tama­nhos e potências, portanto umas grandes e outras pequenas numa amálgama fantástica e maravilhosa.

Essas Estrelas todas seriam projectadas, do ponto origem da explosão ou do ponto mais poten­te da explosão, em todas as direcções, (o que nos dá a sensação da expansão do Universo que verda­deiramente não é mais que a expansão da explosão da Nebulosa).

Devem logicamente possuir um movimento no Espaço mais ou menos em linha recta por terem sido projectadas em todas as direcções.

113

 

 

As Estrelas a pouco e pouco vão perdendo a sua potência, vão enfraquecendo.

Ora numa determinada altura deve começar a faltar-lhes fogo, ou antes reacções nucleares, num ponto, dando-se portanto um desequilíbrio no seu movimento de trajectória.

Com a continuação do enfraquecimento das reacções nucleares esse ponto vai aumentando e ha­verá um momento em que numa metade duma dada Estrela haja reacções nucleares e na outra metade não haja reacções nenhumas, isto é, esteja apagada.

Que fica então?

Fica com certeza um foguetão galáctico a via­jar no Espaço.

Portanto a Estrela tranforma-se num Cometa.

A sua trajectória rectilínea passa progressiva­mente a parabólica.

Com a continuação do enfraquecimento das reacções nucleares chegará uma altura em que não haverá nenhumas reacções nucleares na sua super­fície, pelo menos.

O Cometa passa, portanto, a Planeta, a Planeta Primário.

A sua trajectória passa progressivamente de pa­rabólica a elíptica.

O progressivo arrefecimento da superfície dum Planeta Primário dá origem a condições propícias ao aparecimento da Vida Biológica.

Esta Vida aparece em formas rudimentares que vão evoluindo numa mutação constante acompa­nhando o arrefecimento do Planeta Primário até um auge, dando-se depois uma regressão ou extinção da Vida por arrefecimento total.

O Planeta Primário passa então a Planeta se­cundário ou Satélite, que já não comporta quaisquer formas de Vida.

                                                 114

 

    A sua trajectória elíptica passa progressivamen­te a circular.

Estas transformações dão-se ordenada, progres­siva e lentamente, num fluxo que começa na Estrela mais fraca da Galáxia e acaba na Estrela mais po­tente, até à extinção completa de todas as Estrelas da Galáxia.

Não estão isentas, como é óbvio, de outros acon­tecimentos no conjunto, verdadeiros cataclismos, como, por exemplo, explosão de qualquer astro e até possíveis choques entre eles, ocasionados por cir­cunstâncias anómalas estranhas à Lei da Gravitação Universal.

Quando já não houver nenhuma Estrela ou Co­meta, ou antes, quando todas as Estrelas estiverem reduzidas a Planetas Secundários, ficamos com um conjunto de Planetas Secundários mais ou menos dispersos. Então dá-se uma atracção de todos os Planetas Secundários para um centro devido à Lei da Atracção Universal. Dá-se uma contracção da ma­téria.

Lenta e progressivamente gelarão até atingirem o zero absoluto, pois estão a uma distância fantás­tica, a milhares ou mesmo milhões de anos-luz, da Galáxia mais próxima.

Quando o atingirem e até possivelmente ul­trapassarem que acontecerá?

(Está provado que é impossível esta ultrapassa­gem, mas eu nunca me fiei em provas baseadas numa Física e Química cujos Princípios podem estar errados, tanto mais que há coisas compreensíveis mas que tocam as raias do inconcebível, e se quise­rem tentem explicar porque é que o Infinito é in­finito).

Então aparece uma pressão nula ou negativa e os núcleos dos átomos e os átomos em si separar-

115

 

 

-se-ão nos seus elementos: os protões, neutrões, etc., ou ainda menos que isto.    

E aparece assim uma nova Nebulosa.     Evidentemente as Nebulosas não estão comple-tamente isoladas umas das outras e podem dar-se trocas de matéria entre elas ou até mesmo uniões e disjunções dumas com as outras.

E pelo menos entre elas haverá o Espírito da Vida.

A minha concepção no que diz respeito a Galá­xias e Nebulosas está fora do actual significado destes vocábulos, mas foram os nomes que arranjei melhores para as minhas explicações.

Eu chamo Nebulosa ao que os outros apelidam de Buracos Negros no Espaço onde se dá o que cha­mam aniquilação da matéria e que de facto não é mais que a transformação duma forma coerente e agregada da matéria numa outra forma que ainda que coerente é completamente desagregada.

Ë próprio do Homem a tentativa ao acaso em experiências e constantes lucubrações na ânsia de descobrir a Verdade.

Todas estas tentativas induzem a Humanidade em erros fantásticos com a consequente origem e desenvolvimento do Mal até à sua percepção da Verdade, da Verdade completa e perfeita.

Nesta explicação das Galáxias não nos devemos esquecer de que as Estrelas são projectadas a uma velocidade fantástica e que essa velocidade, devido a todo um conjunto de factores, vai sendo reduzida progressivamente até à formação da nova Nebulosa, onde o movimento será muito reduzido,

E também a primitiva trajectória das Estrelas mais ou menos em linha recta vai sendo modificada progressivamente como já expliquei.

21 de Setembro de 1974   

                                116

 

Conclusão:

Púnhamos ordem no caos. Vida duma Galáxia:

1.° — Nebulosas

2.° —Estrelas

3.° — Cometas

4.° — Planetas Primários

5.° — Planetas  Secundários

6.° — Outras Coisas

7.° — Nebulosas

21 de Setembro de 1974

                                              117

 

Página em branco

                                              118

 

Meu Deus, se existes, escuta-me.

Hei-de-me destruir só porque pretendo ser maior que Tu.

(Coisa bem ridícula da minha parte porque nunca poderei ser maior que Tu e Tu também, em certa altura, não poderás ser maior que eu pois somos pura e simplesmente iguais).

No entanto, Tu não permitirás esta destruição porque seria uma pena.

Em mim estão reunidas as sínteses do Bem e do Mal.

Setembro de 1974

119

 

Página em branco

                                                 120

 

 

A MINHA ÚLTIMA VONTADE

Quando eu morrer permito que façam os estu­dos que quiserem no meu corpo, mas deverão, após esses estudos, juntar os meus restos mortais e en­terrá-los numa campa simples.

Nessa campa deverão colocar uma lápide com as seguintes palavras:

«Meu Deus, se existes, perdoa aos Homens por­que não sabem o que fazem.

Eu já lhes perdoei porque os compreendo.

E não deves permitir que eu seja melhor que Tu».

Possam eles um dia ser dignos de nós.

Setembro de 1974

121

 

Página em branco

                                                122

 

A Cruz é o símbolo de Cristo.

Uma coroa de flores é o meu símbolo.

Com o novo símbolo formado, ou seja, a Cruz Coroada, nós todos salvaremos o Mundo.

Cristo é Grande, mas em verdade vos digo que um dia nós seremos iguais a Ele e saberemos tanto como Ele sabe agora.

Faço um apelo aos Homens em erro e dou-lhes a Esperança de que até os Homens da Pide se salva­rão quando se arrependerem.

Faço, portanto, um apelo para que não prati­quem mais Mal.

Um dia os Maus compreenderão porque é que tinham de ser Maus.

22 de Setembro de 1974

123

 

Página em branco

                                         124

 

A Cruz é o símbolo de Cristo. A Coroa de Flores é o meu símbolo. Cristo é o símbolo do sofrimento máximo. Eu sou o símbolo da máxima alegria. Eu sou Anti-Cristo, a antítese de Cristo.

23 de Setembro de 1974

                                        125

 

Página em branco

                                        126

 

A Vida na Terra processa-se da seguinte ma­neira:

1.» _ Q  Caos

2.° —O Inferno

3.v — O Purgatório

4.° — O   Paraíso

5.° — O  Purgatório

6.° —O Inferno

7.° —O    Caos

E todos podem viver no Céu desde que saibam.

                                  23 de Setembro de 1974

                             127

 

Página em branco

                                              128

 

DEUS E O DIABO

Deus e o Diabo estão reunidos num Ser único.

Deus tinha de andar a fazer partidinhas no Mundo para ser Eterno.

Porque é que Deus tinha de ser o Diabo?

Ora vejamos:

No Princípio apareceu um Ser que tomou noção de Ser Racional.

Este Ser teve medo da Morte. Quando morreu constatou que ia aparecer noutro lado. E voltou a ter medo da Morte. E assim sucessivamente.

Então começou a fazer experiências com os Seres que eram iguais a Ele para perpetuar a sua Eternidade.

Começou a tentar descobrir se haveria alguma coisa que o pudesse destruir a fim de que todos os Seres iguais a Ele fugissem do Perigo.

Isto através de sacrifícios fantásticos para Bem de todos nós que somos igualzinhos a Ele.

27 de Setembro de 1974

129

 

Página em branco

                                         130

 

A ROSEIRA

Há um arbusto que simboliza perfeitamente a concepção de Deus e o Diabo.

Ë a Roseira.

As Rosas simbolizam Deus.

Os Espinhos simbolizam o Diabo.

Tudo, Rosas e Espinhos, num único Ser.

Mas os Espinhos não são Espinhos. São Acúleos muito fáceis de tirar.

Desta forma é muito fácil separar o Bem do Mal.

23 de Outubro de 1974

131

 

Página em branco

                                         132

 

Humanidade! Humanidade! Para onde vais?! Aonde queres tu ir?!

Eu ofereço-te um Mundo cheio de Lógica que, ainda que estivesse errado, poderia dar-te a Felici­dade.

E tu só queres seguir Princípios muitas vezes sem qualquer espécie de Lógica e que derivam uni­camente de tradições e que, mesmo que estejam certos, só te trazem a Infelicidade,

Tens medo de que as poucas Leis que te ficaram depois de Aristóteles também estejam erradas.

23 de Outubro de 1974

133

 

Página em branco

                                         134

 

Se depois de ler este livro, alguém não com­preender os crimes que tem andado a perpetrar, não me venham dizer que o Homem é um Ser Racional.

                                        135

 

Leitor amigo,

quando me compreenderes,

fala comigo.

                                        136