....................... O Homem que tinha um Olho só

 

 

Numa terra longínqua existia um povo que, apesar da sua alta tecnologia e evolução, tinha um problema. As pessoas não viam, ou porque nasciam cegas, ou por qualquer outro motivo inexplicável.

Era uma desgraça que tentavam minorar com uma grande evolução não só tecnológica como também humana. Apesar de tudo viviam felizes.

Eram governados por um rei. Não um rei déspota e prepotente, mas mais um rei amigo e quase democrata. Um rei tão amigo que até exigia que todos os cidadãos, desde o seu nascimento, fossem submetidos a uma máquina para tentarem recuperar da sua cegueira. Uma máquina simples que mais parecia uma pistola que emitia uns raios para a cara do paciente.

Este rei também tinha os seus problemas de nascença. Tinha um olho só. O outro não era mais que uma cicatriz. Mas tinha um benefício em relação aos seus súbditos. Via. E como se diz que em terra de cegos quem tem um olho é rei... Talvez até fosse por isso que ele o era.

Esta terra era uma ilha de que talvez os próprios habitantes ainda não se tivessem apercebido, pois não conheciam nenhumas outras terras. Para eles era tudo o que existia. Mas viviam felizes e bem governados.

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Aconteceu então que uma aia do palácio não gostou nada da atitude do rei que a tratou um tanto desumanamente, ao contrário do que era usual.

Para se vingar conseguiu evitar que o seu filho nado, a quem pôs o nome de João, fosse exposto ao tratamento para uma possível cura da sua cegueira. Embora esse tratamento perdurasse por muitos anos, ela sempre conseguiu evitar que o seu filho lá fosse.

Passados uns anos apercebeu-se de que o seu filho conseguia ver. Intrigada preparou-o no maior segredo para assim ele, quando crescesse, poder estudar a situação.

João, sempre protegido e industriado pela sua mãe, foi crescendo e tornou-se um belo rapaz. Embora fingindo que era cego também, foi estudando as atitudes do rei. Não percebia bem tudo isto, pois até as filhas do rei eram cegas. E eram umas belas moças. Olá se eram. E então a Maria...

Conseguiu arranjar trabalho no local de tratamento dos invisuais e analisar os tratamentos efectuados que eram praticados pelo próprio rei. Só este via e poderia assim aplicar bem o tratamento que consistia numa máquina, uma espécie de pistola que era dirigida para a cara dos pacientes. Esta máquina lançava uns raios esquisitos.

O rei, diga-se de passagem, era muito cuidadoso na manutenção da máquina, ou antes, das máquinas, pois tinha várias para nunca ficar sem nenhuma em caso de avaria.

João um dia apropriou-se de uma e lá conseguiu pô-la a funcionar. Apanhou um valente susto pois a máquina projectou um clarão que quase o deixou cego.

Era um grande perigo, pois só o rei podia mexer nelas e não autorizava que ninguém lhes pegasse. O rei também, quando as usava, punha umas protecções nos olhos.

Estando um dia, o João, a mexer numa, foi surpreendido pelo rei. Este ficou muito enraivecido e apontou ao João uma das máquinas que tinha na mão.

João defendeu-se como pode e ripostou.

João ficou cego dum olho, mas o rei também. E como só tinha um...

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Muitos anos passaram e este povo continuou vivendo contente e feliz. Mas desta feita com um rei mais humano que se chamava João. A rainha era uma bela mulher e chamava-se Maria. A sua beleza superava em muito a sua cegueira. Cega de nascença...

João era um rei tão justo, tão justo, mas ao mesmo tempo tão bom que até permitia que os seus súbditos escolhessem, quando atingissem a maioridade, o olho de que deveriam ficar cegos, coisa que ele, rei, não tinha podido escolher.

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( Em aperfeiçoamento. )