(...)

Não te amo.

Não te quero.

Não desejo o teu corpo, nem admiro a tua mente.

Não sonho contigo, nem de dia nem de noite.

Não pasmo especada perante fotografias tuas que não tenho.

Não penso em ti durante tempo que não conto.

Não perco a noção do tempo de imaginar-te ou sonhar-te.

Não fixo o pensamento em imagens de ti.

Não fixo o olhar em lugares que estiveste comigo ou sózinho.

Não marquei no meu diário o dia em que te conheci.

Não escrevi para a posteridade o dia em que me disseste: -Olá!

Não guardo na memória os teus minimos infimos gestos.

Não colecciono na mente as tuas expressões ou entoações singulares.

Não tenho especial prazer em saber que pensas em mim.

Não tenho qualquer noção que digas o meu nome de modo  e tom especial.

Não oiço o coração bater mais forte quando te vejo.

Não sinto calor ou frio quando te sinto perto.

Não tenho conhecimento que a tua pele seja catalisadora de reacções na minha química.

Não guardo na memória o teu sorriso.

Não guardo no ouvido o teu riso.

Não choro de te ver chorar.

Não fico nervosa quando me olhas nos olhos.

Não sonho com o dia em que me digas que me amas.

Não sonho com o dia em que segures a minha mão.

Não foi a ti que sonhei para pai dos meus filhos.

Não és tu que quero na cabeceira da minha cama quando adoecer.

Não é a ti que anuncio o nascer do dia.

Não é no teu ombro que chorarei a vida.

Não é no teu peito que me esconderei da dor.

Não é contigo que quero me sentar na velha cadeira de baloiço.

Não és tu o velhinho com quem partilho o por do sol no banco do jardim.

Não é tua a dentadura na minha mesa de cabeceira.

Não são tuas as lágrimas que quero que reguem o meu ultimo leito.

Não!

Não és tu.