JE T'AIME
Eu digo: meu amor, e tudo pára,
sufocado por estas emoções; assim se compreende
este silêncio, este esmagar do pensamento
que sai pelas janelas e ameaça a ordem
como um mau romance de aventuras.
Amo-te e isso é tão intenso
que deixo de sentir para não morrer, que prudência,
a da madre natureza que nos impede a explosão,
seria um belo espectáculo, de repente,
cobrirem-se as árvores de estilhaços, e penderem
corações amarrotados das paredes - o excesso
é sempre punido pela ausência.
Amo-te porque isto é um devir
até eu não te amar, amo-te porque me permito
esta lição de como flutuar num meio hostil:
aconteceu em seta, cognição vermelho largo,
cópula imaginária de profetas e grandes
marés de medo e ousadia.
Entendes que o amor é este peso enorme,
que obriga a rigorosos horários para branquear
o universo, implica um rigor, uma apneia
constante, uma fumigação dos ruídos excessivos,
uma atenção ao silêncio em que o outro - um parasita -
nos afoga? Quem falou nos trabalhos do amor, sabia
o que dizia: a alegria cansa e as estrelas alargam-se em luzeiros
na noite que entra dentro do relógio.
Os animais sem loucura rastejam devagar,
as plantas ganham folhas e amplidões onde descubro
pássaros e pássaros poisados, transparentes, com ar
malicioso - eles sabem disto tudo.
O mundo dança estas paixões todos os dias
com um ritmo de alegria desleal:
todos os dias alguém diz a suspirar
je t'aime mon amour etc e tal.