SELECÇÃO DE POEMAS DE "COBRA DE PAPEL" - 1997
FOZ DE AROUCE
O trevo em flor respira em pleno ar
e nunca a terra cheirou tanto a terra e a escuro.
Por entre as carvalheiras sopra a luz, tão devagar
que o dia se agarra às moitas de alecrim
e às abelhas
Há cães que ladram sem razão por entre as oliveiras,
talvez porque faz sol.
Ladram às pombas, às sombras inteligentes, à poeira.
E nós passamos, zonzos com o perfume dos junquilhos
Terra castanha, hora de oiro à beira do caminho.
As sombras escavam com os seus
pincéis de escuridão
a relva mansa e verde-luminosa
Imenso tempo! Imensa tarde que transcendeu a tarde
azul, tépida e precoce dos pinhais
Além
o rio corre, como corre em sonhos