SELECÇÃO DE POEMAS DE "COBRA DE PAPEL" - 1997

 

    NA CAPELA

 

Há um mistério que paira no teu corpo

deitado intimamente com a morte

numa casa sem portas nem janelas

 

Como foste tão longe na companhia

das estátuas? Que olhos cruéis me forçam a olhar-te sem

parar,

sufocado em rosas?

 

O teu rosto de morto foi roubado a outro morto.

Quem?

E as mãos! São isso mãos, essas garras agarradas

a um outro lado do tempo?

 

O teu corpo de pedra

e a tua alma de pedra

caem sozinhos para sempre

 

Ai, bruto milagre horizontal da morte!