Mistério da Vida

 

Por entre a cortina verde de um recanto aconchegante onde gosto de estar, e onde me sinto livre de toda a imensidão de pessoas, automóveis, barulhos e horrores, vejo um vasto céu azul com nuvens brancas. Os desenhos de um mistério se desmistificam pela minha sensibilidade e nem posso sequer parar de olhar. O movimento das nuvens relaxa e lá vou eu bem aconchegada, na maior de todas, a mais fofa, e repousante.

Deitada como num berço de criança embalada pela mãe, recordo um pouco de mim. Meu berço, como seria ele? Tão aconchegante como esta nuvem? Como gostava de saber e sentir de novo o embalar de minha mãe, tenho saudades e nem lembro. Afinal quem me embalou? Recordo tão pouco, quase nada, que as saudades aumentam a cada minuto que passa. Nesta nuvem me sinto rainha, estou na maior de todas e tenho tantas à minha volta, como sou privilegiada.

Será que um dia vou voltar a ser criança? Como gostava, para poder lembrar, meus dias de berço, meus primeiros passos, minhas brigas, meu primeiro dia de escola...sim como terá sido meu primeiro dia de escola?? Será que chorei, que foi minha mãe que me levou? Como gostava de saber e, até sentir de novo. Não me lembro nem da cara da minha professora da 1ª classe, mas lembro o carro dela, isto porque toda a minha vida se falou lá em casa do famoso boca de sapo que levantava, mas dela nada, nem do seu sorriso.

Porque será que só me lembro das tantas vezes que chorei, de me sentir inocente, de conquistar o meu mundo lutando contra tudo e todos? Porque não me lembro de tantos momentos bons que deve ter tido a minha vida? Não sei, mas não lembro.

Terei sido eu feliz? Porque cresci tão depressa? Quero voltar a ser criança, viver numa terra igualzinha à minha, com o mesmo lago de rãs e cágados, com o descampado de relva e as grandes árvores da escola de muro baixinho, sem vedação, onde nos sentíamos livres. Agora já não é assim. O lago já não existe, nem sequer as árvores onde me escondia quando tantas vezes brincava às escondidas com os meus amigos. Ficávamos ali até às dez da noite, sem pressa e sem medo. Podíamos brincar, era muito bom. È só disto que me lembro e é tão pouco.

Porque mudaram tudo? Porque aumentou a violência? Porque tiraram a liberdade de brincar às crianças? Os adultos não sabem nada, vivem como animais selvagens, desrespeitando tudo e todos. Porque será que nos dizemos civilizados, quando na realidade não somos? Já não deixamos as crianças brincar, estamos a mecanizá-las e deixar que elas se tornem em robôs dos adultos. Só lhes damos máquinas para brincar, substituímos a terra, o lago, as rãs e as árvores por desenhos virtuais que elas nunca chegam a tocar nem a sentir. Que pena o mundo estar a morrer, sem sequer pensarmos nas crianças.

 

15/06/01

Rosinha