Quando era jovem andei com uma Morena.
E até parece que gostávamos bem um do outro. Ficava doido quando ela, com os olhos semicerrados, parecia dizer-me:
- Observa! Olha bem! Nunca encontrarás uma beleza igual à minha!
E parece que tinha razão. Nunca mais encontrei beleza igual...
O seu corpo cor de ébano, mas um ébano sem ser muito escuro, com curvas maravilhosas, fazia crer que a perfeição estava ali e que a sua cor devia ser a preferida dos Deuses.
Mas fazia de mim gato sapato. Ou antes uma gata brincando com o seu rato.
Depois de eu cair exausto ela, com um riso gracioso dos seus dentitos ebúrneos, brilhando para mim, dizia-me:
- Tenho de te rifar! Não tens pedalada para mim...
E ria, ria com prazer.
A vida nos juntou, a vida nos separou. Mas parece que não me rifou.
Muitos, muitos anos depois encontrámo-nos e fomos tomar um café.
Ela perguntou-me:
- Que fazes?
Mostrei-lhe a revista que tinha entre mãos e disse-lhe:
- Ando a ver beldades em todas as revistas e consigo sempre encontrar-lhes um defeito que tu não tens...
Ela deitou-me um sorriso agradecido e, enquanto saboreava o café que se deixava sorver sempre com inveja daqueles apetitosos lábios, disse-me:
- Sabes?! É pena estarmos comprometidos e não sermos livres... Agora estou com uma pedalada igual à tua...
Outubro 2001