Na minha adolescência tive ou talvez tivesse tido um grande amor. E talvez até não tivesse sido assim tão grande. Sim, porque até aí os outros não tinham passado de flirts.

Encontrei-a nas minhas relações e agradei-me do seu riso jovial. A tia que a educava talvez fosse um pouco severa.

Com os meus parcos recursos e aproveitando todas as gorjetas que ganhava comprava de vez em quando bilhetes em bons lugares de cinemas que oferecia dizendo, para que aceitassem, que mos tinham oferecido a mim.

Só para poder estar junto dela, apesar da companhia da sua tia, e, na escuridão da sala, podermos entrelaçar as mãos que lhe apertava com força suavemente.

Muitas vezes quando, por engano, as nossas mãos caiam para o seu regaço, sentíamos os nossos corpos estremecer de prazer como se o acto se consumasse.

Um dia, nas escadas junto à porta dela, preparava-me para a beijar e fitei-a bem no fundo dos  seus olhos. Fiquei petrificado. E tive medo de me lançar na fornalha dessa paixão.

Quando tiverem no bem e no mal de fazer qualquer coisa, fechem os olhos e sigam os vossos instintos e os apelos do vosso coração.  Pelo menos, serão mais felizes. O espírito, nesta situação, faz sempre merda.

Muitas vezes já pensei no suicídio. Mas para nos suicidarmos é preciso termos muita coragem. E eu sou um cobarde. Um cobarde que por mais tormentos que passe tem a curiosidade de esperar para ver como isto acaba. Pena é que nos momentos cruciais da vida só tenha feito besteira.

Mas se um dia me suicidasse haveria de o fazer de forma a que ninguém sequer o pudesse suspeitar. Seria doloroso para mim que alguém pudesse ficar com um pequeno, por mais pequeno que fosse, remorso de poder ter sido a causa. 

Pobre garota quanto não sofreu. E que pensou do grande amor seu.

Quando me deu com os pés é que me apercebi bem do que tinha acontecido. Ainda tentei dar um jeito. Mas o mal já estava feito.

Ainda não pensava quão enfeitiçado estava.

Neste mundo de loucos, não fui mais que mais um entre os mais.

Já vi olhos muito mais bonitos, olhos divinais, mas aquele olhar nunca, nunca, nunca mais.

Hoje daria tudo, tudo até ao fim, para o ter bem, bem junto a mim.

Com outro a vi casar quando só a ela eu queria amar.

Partiu-se-me o coração com o seu olhar de compaixão...